O Senegal proibiu a distribuição "por qualquer meio" da edição desta quarta-feira do semanário satírico francês "Charlie Hebdo" e do diário "Libération", ambas exibindo na capa uma caricatura do profeta Maomé.
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"É proibido distribuir e difundir, por qualquer meio, as edições de hoje do semanário francês Charlie Hebdo e do diário francês Libération, em toda a extensão do território nacional", noticiou a agência de notícias senegalesa (APS, pública), citando um comunicado do ministério do Interior.
"Quem desobedecer ficará sujeito às leis e disposições em vigor", acrescenta o texto.
Nenhum jornal senegalês ou 'site' de informação reproduziu hoje a capa do Charlie Hebdo, jornal não distribuído em banca no país mas disponível em algumas livrarias, cuja redação foi alvo, a 7 de janeiro, de um ataque de 'jihadistas' que irromperam pela redação e abriram fogo, como vingança contra a publicação de caricaturas de Maomé, fazendo 12 mortos, entre os quais alguns dos mais populares cartoonistas do país.
Este é o primeiro número do semanário satírico após o atentado da semana passada em Paris, hoje reivindicado pela Al-Qaida na Península Arábica.
A edição especial do Charlie Hebdo, elaborada nas instalações do Libération pelos sobreviventes do atentado e novamente com Maomé caricaturado na capa, viu hoje a sua tiragem aumentada dos três milhões de exemplares anunciados para cinco milhões, para satisfazer a procura -- números muito distantes dos habituais 60.000 exemplares.
O Senegal, "república laica" onde a imprensa é supostamente livre e a censura aos jornais é rara, tem mais de 90% de muçulmanos. Vários líderes religiosos locais criticaram as caricaturas do Charlie Hebdo, porque o Islão proíbe qualquer representação do profeta.
O chefe de Estado senegalês, Macky Sall, também presidente da Organização da Cooperação Islâmica (OCI), participou na "marcha republicana" realizada no domingo em Paris contra o terrorismo, suscitando críticas no país.
Uma nota no jornal privado Le Quotidien sublinhava na segunda-feira que os dirigentes africanos presentes "quiseram dar uma boa imagem, de protetores dos direitos e liberdades fundamentais", enquanto cada um deles, incluindo Macky Sall, "tem casos de violação das liberdades elementares no seu próprio país".