Série de Amanda Knox gravada em Itália enfurece cidade onde britânica foi assassinada
A presidente da Câmara de Perugia, onde a estudante britânica Meredith Kercher foi assassinada, pediu desculpa por ter permitido que uma polémica série de televisão coproduzida por Amanda Knox fosse filmada na cidade italiana.
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A decisão levou a protestos de moradores, que exibiram cartazes com as palavras “Rispetto per Meredith” ("respeito por Meredith", em português) por toda a cidade, enquanto a equipa chegava para filmar cenas de "Blue Moon", um drama em oito partes que relata a batalha de Amanda Knox para limpar a sua imagem no caso do assassinato e que será exibido no serviço de streaming da Disney, Hulu.
Em causa está o homicídio da estudante britânica Meredith Kercher, de 21 anos, na casa que partilhava com a norte-americana Amanda Knox em 1 de novembro de 2007. O corpo de Kercher foi encontrado no quarto, parcialmente despido e com várias facadas. Knox, de 37 anos, e o seu ex-namorado italiano, Raffaele Sollecito, foram condenados duas vezes pelo homicídio antes de serem definitivamente absolvidos em 2015, numa decisão judicial que descreveu “falhas impressionantes” na investigação que levou às suas condenações.
Por sua vez, a família de Kercher disse, na semana passada, achar “difícil compreender” como é que a série serviria algum propósito.
Numa carta aberta aos moradores, Vittoria Ferdinandi, presidente da Câmara de Perugia, pediu desculpa, dizendo que, ao decidir autorizar as filmagens, tinha-se esquecido “do povo e da sua tristeza, que ainda está viva neles”. Ferdinandi explicou, de acordo com o jornal britânico "The Guardian", que a administração poderia ter recusado a permissão, mas as cenas “teriam sido filmadas em qualquer outra cidade da nossa região”. Por isso, a realização da série na cidade permitia às autoridades ter um maior controlo sobre a proteção da imagem da cidade.
Absolvida do homicídio, mas acusada por difamação
Amanda Knox tinha 20 anos quando foi detida, juntamente com Raffaele Sollecito, pelo assassinato da colega Meredith Kercher, com quem vivia em Perugia, em novembro de 2007. Seguiu-se uma longa saga jurídica, onde a dupla foi considerada culpada, absolvida, considerada culpada novamente e finalmente inocentada em 2015. Knox e Sollecito passaram quatro anos na prisão antes de serem libertados em 2011.
Desde então, Knox ganhou 3,5 milhões de libras (4,2 milhões de euros) pelo seu livro de memórias, participou num documentário da Netflix sobre o caso em 2016 e foi tema de outros livros e filmes.
As filmagens do drama surgem poucos meses depois de um tribunal de Florença ter mantido uma condenação por calúnia contra Knox por acusar injustamente Patrick Lumumba, proprietário de um bar em Perugia, do homicídio de Kercher. Depois de ser implicado, Lumumba passou quase duas semanas detido antes de ser libertado sem acusação.
Carlo Pacelli, advogado de Lumumba, afirmou, na semana passada, que o seu cliente ainda não tinha recebido o dinheiro da indemnização que Knox foi condenada a pagar pela alegação.
Rudy Guede, associado ao local do crime por ADN e que foi a única pessoa definitivamente condenada pelo assassinato e agressão sexual de Kercher em 2008, foi libertado da prisão em novembro de 2021, após completar 13 anos de uma pena de 16 anos.