Entre 2009 e 2019, sete portugueses foram morrer à Dignitas, na Suíça. Neste momento, há 20 inscritos na associação sem fins lucrativos que "ajuda as pessoas a morrer com dignidade". Um número que se tem mantido estável desde 2014.
Corpo do artigo
De acordo com dados da Dignitas, o primeiro português que se suicidou com o apoio da associação foi em 2009, o último em 2019. No ano passado, ajudou 256 pessoas de várias nacionalidades a pôr termo à vida. Ao JN, a associação explica que "apenas 3%" dos inscritos (no fim do ano passado eram 9822) acabam por efetivamente recorrer ao suicídio assistido. Os restantes querem sobretudo informação ou apoiar a causa do direito a escolher a morte.
Do total de pessoas que pedem ajuda para morrer àquela associação, 58% são mulheres e 42% são homens. "Não há uma lista de espera", garante a organização, explicando que cada caso é estudado ao pormenor e que, em muitas situações, o simples facto de as pessoas saberem que têm uma "saída" ao dispor "até lhes dá mais vontade de viver".
Mais de 3 mil em 22 anos
No ano em que foi fundada, 1998, a associação ajudou apenas seis pessoas na hora da morte. Em 22 anos, soma 3027 suicídios assistidos - ato que implica ser o indivíduo a realizar o gesto final de administrar o medicamento letal e não um profissional de saúde. A eutanásia praticada por um médico é proibida na Suíça, onde a associação tem sede e faz todo o seu trabalho. Além da Dignitas, há outras organizações no país que realizam suicídios assistidos, inclusive a estrangeiros, como a Lifecircle e a Exit.
A Dignitas afirma que investe sobretudo na prevenção do suicídio e rejeita o "turismo da morte". "O objetivo da Dignitas não é que pessoas de todo o Mundo viajem para a Suíça, mas que outros países adaptem as suas leis para implementar opções de fim de vida".
No caso dos suíços, a Dignitas faz o acompanhamento em casa, permitindo que a despedida se faça na presença da família e amigos, o que não acontece quando alguém se desloca de outros países.
No top cinco de cidadãos que morreram com a ajuda da associação, estão alemães (43,6% dos casos), suíços, britânicos, franceses e italianos.
Custa 2350 euros
A Dignitas aplica uma taxa de 2500 francos suíços (2350 euros) para a realização do suicídio assistido. Há, no entanto, uma série de pré-requisitos necessários para o fazer, tais como ter uma doença incurável e fatal ou uma incapacidade ou dor insuportável e incontrolável, confirmadas pelos médicos que colaboram com a associação.
Sobre o debate que vai ter lugar no Parlamento português no próximo dia 20, a associação espera que seja uma mudança de paradigma: "Para que os portugueses tenham a mesma escolha de direitos humanos que os suíços. E que o povo português não precise mais da Dignitas". E deixa o convite: "Se os deputados portugueses estiverem interessados, podem vir visitar-nos e mostraremos como o suicídio profissionalmente acompanhado funciona bem aqui".
Petição
Dezenas de médicos já assinaram
Gilberto Couto é um dos coordenadores do Movimento Morrer com Dignidade que lançou uma petição, já assinada por dezenas de médicos, entre centenas de outros nomes. "Muitas vezes, é do interesse do doente antecipar uma morte associada a um fim de vida horrível", defende. Já o bastonário da Ordem dos Médicos afirma que "quando se diz que 400 profissionais de saúde assinaram a petição a favor da eutanásia até parece muito, mas há 130 mil médicos e enfermeiros, ou seja, estamos a falar de 0,3%". "Chega a ser ridículo dizer que a maioria dos profissionais de saúde são a favor da eutanásia",diz Miguel Guimarães.