Silva Peneda recorda ação decisiva no projeto do gás e carinho de Delors por Portugal
O antigo ministro do Emprego e da Segurança Social testemunhou o importante papel que Jacques Delors teve na importação de gás natural da Argélia, destacando ainda a amizade demonstrada em questões específicas para os portugueses.
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"Já tanto foi dito, mas há um episódio pessoal que gostaria de destacar". Um dia depois da morte do francês Jacques Delors, presidente da Comissão Europeia entre 1985 e 1995, Silva Peneda recordou, em jeito de homenagem, a atitude decisiva que o chamado "pai do euro" assumiu, na década de 90, em relação ao projeto europeu de importação de gás natural da Argélia.
"Estávamos em 1994 e eu fui nomeado pelo primeiro-ministro [Cavaco Silva] para representante das questões europeias", começou por contar o antigo ministro do Emprego e da Segurança Social. Em cima da mesa estava, na altura, o projeto de importação de gás natural da Argélia, que chegou a ser colocado em causa devido à Guerra Civil daquele país, que viria a prolongar-se até 2002.
No entanto, acrescentou Silva Peneda, as palavras de Delors foram decisivas. "Foi ele que que disse que não se podia deixar cair o projeto, que isso seria a pior coisa que poderia acontecer".
Além disso, o político citou ainda Cavaco Silva para destacar "o carinho especial que Delors tinha por Portugal", sublinhando o contributo decisivo dado na integração do país na então Comunidade Económica Europeia, em 1986.
Na quarta-feira, o ex-chefe de Estado e antigo primeiro-ministro já tinha realçado também o contributo do chamado "Senhor Europa" para "o sucesso de negociações particularmente relevantes para Portugal", nomeadamente com "a criação da política europeia de coesão económica e social" e "os programas de apoio à indústria portuguesa (PEDIP), ao desenvolvimento dos Açores e da Madeira (POSEIMA) e à modernização da indústria têxtil e do vestuário".
Jacques Delors, que também teve a seu cargo a pasta da Economia, morreu na quarta-feira, aos 98 anos. A notícia foi avançada pela filha, Martine Aubry, presidente da câmara municipal de Lille. De acordo com a autarca, Delors morreu "na sua casa de Paris, durante o sono".
A partir de Bruxelas - e durante três mandatos - desempenhou o papel de arquiteto na definição dos contornos da Europa contemporânea. Em 1986, aprovou o Ato Único Europeu, que levou à criação do Mercado Único Europeu, em 1993. A assinatura dos acordos de Schengen, o lançamento do programa de intercâmbio de estudantes Erasmus, a reforma da Política Agrícola Comum e o lançamento da União Económica e Monetária que conduziu à criação do euro são outros dos momentos do projeto europeu que lhe estão associados.
Nome incontornável da esquerda francesa – foi ministro da Economia (1981-1984) na Presidência de François Mitterrand - Jacques Delors frustrou as esperanças desta ala partidária ao recusar apresentar-se às presidenciais de 1995 em França. Na altura, era favorito nas sondagens e a sua renúncia transmitida na televisão foi vista por 13 milhões de telespectadores. "Não me arrependo", afirmou à revista Le Point, em 2021.