Catorze Dalai Lama guiaram os budistas do Tibete nos últimos seis séculos, os quais, segundo os fiéis, são reencarnações uns dos outros, identificados em processos obscuros que variam de sinais auspiciosos a adivinhações.
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A China afirma que o Tibete é parte integrante do país e muitos tibetanos exilados temem que Pequim nomeie um sucessor rival, reforçando o controlo sobre uma terra para a qual enviou tropas em 1950.
O 14.º Dalai Lama, Tenzin Gyatso, nasceu numa família de agricultores em 1935 e passou a maior parte da sua vida exilado na Índia. Afirmou que, se houver um sucessor, este virá do "mundo livre" fora do controlo da China.
Oráculos
Prestes a completar 90 anos no dia 6 de julho, o Dalai Lama disse que vai consultar as tradições religiosas tibetanas e o público tibetano para verificar "se existe consenso sobre a continuidade da instituição do Dalai Lama" e que “vai deixar instruções claras por escrito" para o futuro.
Em alternativa, sugeriu que o seu sucessor poderia ser uma menina, um inseto ou que o seu espírito poderia transferir-se ou "emanar" para um adulto.
A responsabilidade do reconhecimento cabe ao Gabinete de Sua Santidade o Dalai Lama, sediado na Índia. A procura e o reconhecimento de outro líder devem estar "de acordo com a tradição budista tibetana anterior". Isto inclui a consulta de uma divindade protetora, Palden Lhamo, e do oráculo de Dorje Drakden, também conhecido como Nechung, que comunica através de um médium em transe.
Reconhecimento da reencarnação
Os budistas tibetanos acreditam em todas as reencarnações do "Bodhisattva da Compaixão", um ser iluminado que serve a humanidade adiando a salvação através de outro renascimento.
Até agora, todos os Dalai Lama foram homens ou rapazes, frequentemente identificados como crianças pequenas e assumindo esse papel apenas na adolescência.
O último processo de identificação foi realizado em 1937. O atual Dalai Lama foi identificado quando tinha apenas dois anos, ao passar num teste imposto por monges, apontando corretamente para objetos que pertenceram ao seu antecessor.
Sinais auspiciosos
Outros Dalai Lama foram revelados por sinais especiais. O ano de nascimento do oitavo Dalai Lama, em 1758, foi marcado por colheitas abundantes e por um arco-íris que, aparentemente, tocou na sua mãe. Foi identificado após tentar sentar-se em posição de meditação de lótus quando era criança.
"A maioria dos seres comuns esquece as suas vidas passadas", escreveu o Dalai Lama em 2011. “Precisamos de usar lógica baseada em evidências para provar renascimentos passados e futuros para eles”.
Urna de ouro e bolas de massa
A adivinhação, incluindo a escolha de nomes escritos em papel, também tem sido utilizada para confirmar a veracidade de um candidato. Um dos métodos pressupõe esconder o papel dentro de bolas de massa.
Numa outra ocasião, o nome foi retirado de uma urna de ouro, que está agora na posse de Pequim. O atual Dalai Lama alertou que, quando utilizada desonestamente, a urna carece de "qualquer qualidade espiritual".
Origem no Tibete, Mongólia e Índia
Os Dalai Lama são oriundos de famílias nobres e pastores nómadas. A maioria nasceu nas regiões centrais do Tibete, um veio da Mongólia e outro nasceu na Índia.
Sigilo e disfarce
As decisões passadas também foram mantidas em segredo durante anos. O Quinto Dalai Lama, Lobsang Gyatso, nasceu em 1617 e foi reconhecido ainda criança. Porém, a sua descoberta foi mantida em segredo durante mais de duas décadas devido a uma "situação política turbulenta", afirma o gabinete do Dalai Lama.
Quando morreu, pediu aos monges que dissessem que estava num "longo retiro". Quando recebia visitas, um monge idoso posava no seu lugar, usando um "chapéu e sombra para esconder a ausência dos olhos penetrantes do Dalai Lama". O seu sucessor foi anunciado 15 anos depois.
