A vice-presidente do partido republicano irlandês Sinn Féin, Michelle O'Neill, lamentou esta quinta-feira a incerteza que se mantém sobre o restabelecimento das instituições políticas regionais na Irlanda do Norte, apesar de assinalar progresso nas negociações entre Londres e Bruxelas.
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"Tem de existir um plano e pergunto qual é o plano para restabelecer o Governo", afirmou hoje em Londres, durante uma conferência de imprensa organizada pela Associação de Imprensa Estrangeira.
O'Neill lamentou o "limbo" em que os norte-irlandeses continuam oito meses depois das eleições regionais de maio de 2022, sem uma Assembleia e Governo autónomos formados para lidar com a crise do aumento do custo de vida e os problemas no sistema de saúde.
"Saudamos as notícias de boas relações entre o Reino Unido e a União Europeia, saudamos o progresso nas negociações, mas continuamos com incerteza e instabilidade", lamentou.
O prazo para a formação de um Governo autónomo expira hoje sem perspetivas de ser cumprido devido ao bloqueio do Partido Democrata Unionista (DUP).
Em maio, as eleições regionais resultaram numa vitória, pela primeira vez, do Sinn Féin, mas como o governo da Irlanda do Norte funciona num modelo de partilha de poder, não pode ser constituído sem o DUP, o segundo partido mais votado.
Como condição, os unionistas exigem uma alteração fundamental do Protocolo da Irlanda do Norte, criado para evitar uma fronteira física com a República da Irlanda, país membro da UE, a única fronteira terrestre entre o Reino Unido e o bloco europeu.
Por lei, o Governo britânico terá de convocar eleições na Irlanda do Norte nas próximas 12 semanas, até, no máximo, 13 de abril, embora possa, teoricamente, prorrogar esta data.
O ministro para a Irlanda do Norte britânico, Chris Heaton-Harris, disse hoje que iria usar as "próximas semanas para avaliar toda as opções" antes de tomar uma decisão.
Nas últimas semanas, Governo britânico e a Comissão Europeia deram conta de avanços nas negociações sobre o estatuto pós-Brexit da província britânica, mas ainda estão longe de um entendimento.
Londres quer renegociar o Protocolo para a Irlanda do Norte para remover estes controlos e burocracia dos bens que chegam do Reino Unido para consumo interno na província britânica, e também disputa o papel do Tribunal de Justiça Europeu na vigilância do acordo.
Mas Bruxelas recusa mudar o texto e propôs eliminar 80 por cento dos controlos aduaneiros se o Reino Unido aceitar as regras fitossanitárias de segurança alimentar europeias.
O novo ímpeto sentido nas negociações acontece quando se aproxima o 25.º aniversário do acordo de paz Belfast/Sexta-Feira Santa para a Irlanda do Norte, em 10 de abril, que pôs fim a três décadas de um conflito violento sectário que matou cerca de 3.500 pessoas.