A tripulação do avião que se despenhou no Brasil no mês passado comunicou uma falha no sistema de degelo, segundo um relatório oficial divulgado esta sexta-feira, pelas autoridades brasileiras, mas não declarou qualquer emergência antes da queda. Passageiros nunca souberam o que se estava a passar no cockpit.
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O relatório preliminar da investigação à queda do avião da Voepass, em Vinhedo, a cerca de 80 quilómetros de São Paulo, a 9 de agosto, revela que a tripulação comentou que existiam condições propensas para a formação de gelo e que o sistema de degelo teve problemas. Ainda assim, o documento não aponta uma causa para o acidente que matou as 62 pessoas que seguiam a bordo.
Na altura, vídeos mostraram o voo da companhia aérea Voepass a girar para baixo, caindo quase verticalmente antes de se despenhar numa área residencial na cidade de Vinhedo. Um minuto antes de o avião ATR 72-500 começar a perder altitude, o copiloto notou “muito gelo”, segundo o relatório divulgado pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (CENIPA).
Horas após o incidente, especialistas apontaram a possibilidade de a formação de gelo nas asas ter afetado a sustentação do avião, contribuindo para o acidente. No entanto, o responsável pelo CENIPA, Marcelo Moreno, adverte que não é possível ainda confirmar uma falha no sistema de degelo nem se o gelo influenciou o desfecho do voo.
“É muito cedo para determinar qual será a linha de investigação” sobre as causas, explicou, em conferência de imprensa.
Por duas vezes, nos gravadores de voz, os pilotos falaram sobre acumulação de gelo e, numa delas, referiram uma falha no sistema anti-gelo. A questão da formação de gelo foi comentada por duas vezes, "durante o voo de uma hora e dez minutos", sublinhou Paulo Fróes, tenente-coronel do CENIPA, depois de revelar que por várias vezes o sistema foi ligado e desligado.
"O sistema é desligado por meio de um botão. Se a tripulação o desligou ou se outra coisa desligava o sistema, não descartamos nenhuma hipótese. Hoje, não temos esses indícios", sublinhou, por este se tratar de uma relatório preliminar e não uma conclusão final sobre o caso.
O avião estava certificado para voos em condições de gelo e os pilotos tinham recebido formação específica para voar nessas condições, segundo o CENIPA. Em nenhum momento antes do acidente a tripulação declarou uma emergência ou fez alguma comunicação a alertar a cabina para um problema.