Site internacional terá lucrado com "nudes" não consentidas de homens portugueses
Um fórum internacional voltado para a comunidade LGBT+ tem alojado no seu servidor fotografias e vídeos íntimos não consentidos de centenas de homens portugueses homossexuais e heterossexuais, mesmo violando os seus termos e condições, que proíbem "estritamente" a captura e a partilha de conteúdos entre utilizadores sem que estes tenham sido autorizados pelos respetivos autores.
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Os vídeos e fotografias de terceiros, vulgarmente conhecidas por "nudes", foram submetidos na plataforma com "mais de um milhão de membros" por utilizadores que se registaram no site e cuja identidade, além de anónima, não foi verificada.
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São sobretudo conteúdos que começaram por ser publicados, primeiro, em plataformas de acesso limitado, como o OnlyFans, ou simplesmente obtidos através das redes sociais, como o Instagram, ou do Grindr, uma aplicação móvel para encontros homossexuais, e que acabaram depois partilhados no fórum (e no grupo de Telegram) pelos utilizadores, muitas vezes como "moeda de troca".
Como os visados desconhecem que as suas fotos íntimas estão na plataforma "Large Penis Support Group" ("Grupo de Apoio ao Pénis Grande", em tradução literal para português), onde os utilizadores só estão autorizados a partilhar conteúdo do qual sejam autores ou para o qual tenham recebido permissão, também não existe contestação quanto ao furto "editorial" junto do site, que assim também desconhece o "ilícito", mas vai lucrando indiretamente com ele, quanto mais não seja na angariação de novos registos.
Isto porque, apesar de mostrar uma parte do conteúdo a qualquer visitante, a plataforma permite o "desbloqueio" total das fotografias e vídeos - e uma série de outras vantagens como a remoção de anúncios - se algum membro aderir a uma das duas assinaturas "Gold" que disponibiliza: a mensal por 29,99 dólares (cerca de 25 euros) e a semestral por 99,99 dólares (cerca de 84 euros).
Os visados, homens homossexuais e heterossexuais, de todas as zonas do país, desconhecem totalmente a partilha devido às circunstâncias em que estes conteúdos foram muitas vezes obtidos.
"Alguém para a sacar "nudes" a heteros?"
O comentário, acompanhado de três fotografias íntimas de um homem do Porto, segue em linha com as demais pedidos: "Alguém tem algo mais dele?". As perguntas parcas, mas diretas, vão quase todas no mesmo sentido neste tópico do fórum. "Ninguém tem nada do P. e do namorado? Ouvi dizer que anda por aí material. Se alguém tiver, tenho para troca", informa um outro utilizador sobre um casal de Lisboa.
Os visados, regra geral, têm presença nas redes sociais e não precisam de ter milhares de seguidores. Basta que despertem a atenção pelos seus atributos físicos na Internet. "Tenho algumas fotos para partilhar deste", assegura um utilizador. Mas se há quem tenha menos sorte ("E do R.? Bem que já lhe pedi, mas nada..."), há até quem vá mais longe: "Alguém para a sacar "nudes" a heteros? Trabalho remunerado!".
"Isso é tudo o que não queremos no LPSG"
Questionado pelo Jornal de Notícias sobre o assunto, a equipa de suporte da plataforma assumiu que desconhecia o "problema" e lamentou "totalmente a situação": "Não permitimos imagens não autorizadas no nosso site. [Por isso] todas as fotos e publicações foram removidas. Estamos agora a triar os utilizadores que fizeram essas publicações para emitir avisos e proibições por quebrarem as regras do site". Depois do pedido de esclarecimento do JN, as várias publicações em série deste tópico deixaram de estar acessíveis, mas uma pesquisa rápida no site permite detetar outras publicações idênticas envolvendo, por exemplo, instagrammers portugueses.
"O LPSG é uma comunidade amadora construída por utilizadores que partilham imagens de si mesmos. Somos um lugar onde as pessoas podem fazer amigos e desfrutar da companhia adulta umas das outras. Tudo o que estava nesse tópico é tudo o que não queremos no LPSG", afirmou ainda o grupo na nota enviada ao nosso jornal.
Apesar de alegar desconhecer a situação, a plataforma informa que tem, desde agosto, um "novo sistema de verificação" para ajudar a evitar que situações idênticas aconteçam.