<p>O acesso aos "sites" da BBC, CNN e outros órgãos de informação ocidentais estava hoje, sexta-feira, bloqueado na China, numa aparente tentativa do Governo chinês de diminuir o impacto da cerimónia em honra do Nobel da Paz 2010, Liu Xiaobo.</p>
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Organizações de defesa dos direitos humanos afirmaram que nos últimos dias, "dezenas ou centenas" de dissidentes chineses ficaram em prisão domiciliária, sem contactos telefónicos com o exterior, ou foram impedidas de viajar para fora da China.
A vigilância policial é especialmente apertada nas imediações da casa de Liu Xiaobo, onde a sua mulher, Liu Xia, esta retida desde que o Comité Nobel norueguês anunciou a atribuição do Prémio da Paz ao marido, há dois meses.
"Numerosos veículos da polícia, identificados ou não, estavam estacionados hoje de manhã (hora local) perto da residência do casal, na zona ocidental de Pequim", assinalou a agência France-Press.
As emissões da CNN e da BBC, captadas em muitos hotéis e condomínios de Pequim, são sistematicamente interrompidas quando os apresentadores dos noticiários se referem ao Nobel da Paz.
O acesso ao "site" do Comité Nobel norueguês foi também bloqueado.
Mais de 420 milhões de chineses estão ligados à Internet e alguns deles conseguem saltar a "Grande Firewall da China" através de uma VPN (virtual proxy network).
"As autoridades chinesas estão muito nervosas", comentou um diplomata ocidental.
Liu Xiaobo, condenado em Dezembro passado a 11 anos de prisão por "actividades subversivas", foi distinguido pelo Comité Nobel norueguês "pela sua longa e não violenta luta pelos direitos fundamentais na China".
Para o Governo chinês, o Nobel da Paz 2010 é "um criminoso condenado por ter violado a lei chinesa" e a sua distinção constitui "uma ingerência na soberania judicial da China".
A cerimónia de homenagem a Liu Xiaobo, em Oslo, está marcada para as 13:00 (20:00 em Pequim e 12:00 em Lisboa).
Na quinta-feira passada, numa conferência de imprensa transmitida em direto pela CNN e bloqueada na China, o presidente do Comité Nobel norueguês, Thorbjoern Jagland, rejeitou que o Prémio da Paz 2010 seja considerado um ataque à China.
"Não é um prémio contra a China. É um prémio homenageando pessoas na China (...). Em larga medida, o futuro do mundo está nas mãos deste grande país", disse Jagland.
A China apelou para o boicote da cerimónia de hoje, afirmando que "mais de cem países e organizações internacionais" apoiam a sua posição.
Segundo Jagland, estarão presentes "dois terços dos países com embaixadas na Noruega".
Os dois diários oficiais chineses de língua inglesa (China Daily e Global Times), dirigidos sobretudo aos estrangeiros, voltaram hoje a atacar o Comité Nobel norueguês, cuja escolha consideraram "uma farsa contra a China", mas os jornais populares, em chinês, ignoraram o assunto.