A ameaça que representava o Iraque não era suficiente para justificar a guerra em 2003, declarada, sem o reconhecimento da ONU, por iniciativa do então presidente norte-americano George W. Bush, com o apoio do ex-primeiro ministro britânico Tony Blair.
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A conclusão é da antiga chefe do serviço de contraespionagem britânico MI5 Eliza Manningham-Buller, que, na terça feira, prestou declarações na comissão que investiga as circunstâncias da invasão anglo-americana do Iraque há sete anos.
No seu depoimento, Eliza Manningham-Buller afirmou que a invasão do país árabe aumentou "substancialmente" o grau de ameaça de atentados terroristas contra o Reino Unido e insistiu que não havia qualquer ligação evidente entre o ex-presidente iraquiano Saddam Hussein e os ataques às torres gémeas de Nova Iorque, em Setembro de 2001.
"Saddam Hussein não teve nada a ver com o 11 de Setembro", assegurou.
Eliza Manningham-Buller advogou que o foco dirigido ao Iraque desviou as atenções sobre a ameaça da organização terrorista islâmica Al-Qaida em relação ao Afeganistão, um "problema estratégico maior e de longo prazo".
O conflito de 2003, sustentou, teve o efeito de "radicalizar" muitos jovens, incluindo britânicos, que o interpretaram como um ataque ao Islão.
Manningham-Buller, que chefiou o MI5 entre 2002 e 2007, assinalou que não foi uma surpresa o facto de terem sido fundamentalistas iraquianos a perpetrar o atentado, a 07 de julho de 2005, contra o metro de Londres.
A antiga chefe do serviço de contraespionagem explicou à comissão de investigação que a ameaça de atentados contra a Grã-Bretanha por parte da Al-Qaida era anterior aos atentados do 11 de Setembro nos Estados Unidos e à guerra contra o Iraque.
Porém, "sem dúvida", esta última "aumentou" o risco dos atentados.
Um ano depois da invasão do Iraque, o MI5 estava "inundado" de informações referentes a possíveis células ou conspirações terroristas no Reino Unido, relatou Manningham-Buller, acrescentando ter partilhado a sua inquietação sobre os efeitos da guerra no Iraque com o então ministro do Interior britânico David Blunkett.
Todavia, não se recorda de tê-lo feito com Tony Blair.
A antiga responsável do MI5 reconheceu que o serviço "não previu as circunstâncias sob as quais os britânicos poderiam envolver-se" em actividades terroristas depois de 2004.
Em 2003, Eliza Manningham-Buller era membro do Comité Conjunto de Inteligência do governo britânico, cujo presidente, John Scarlett, elaborou em 2002 o polémico dossier sobre a suposta capacidade nuclear do regime de Saddam Hussein.
Questionada sobre o documento, que alegava que Hussein poderia lançar um ataque contra o Reino Unido em 45 minutos, a baronesa disse ter muito pouco a ver com o relatório, mas vincou, "em retrospectiva", que se "tinha estado demasiado dependente" de certo tipo de inteligência.