Comissão especial para a destituição da Presidente da República com mandato suspenso Dilma Rousseff decidiu passagem de processo para julgamento no Senado.
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"A esperança, só a esperança, nada mais, chega-se a um ponto em que não há mais nada senão ela, é então que descobrimos que ainda temos tudo". Amparada em José Saramago ("O Ano da Morte de Ricardo Reis"), a senadora Gleisi Hoffmann, do Partido dos Trabalhadores (PT), deu o mote. "Vamos continuar a resistir - no Senado, ou nas ruas!", completou o seu companheiro Lindbergh Farias.
Os apoiantes da Presidente da República estavam em minoria na Comissão Especial do Senado para a destituição de Dilma Rousseff, que concluiu esta quinta-feira os seus trabalhos, ao aprovar, por 14 contra cinco, o relatório de pronúncia.
Como estará em minoria no plenário, que votará o documento terça-feira. Bastará metade mais um dos senadores para a levar a julgamento final. Neste, serão necessários 54 dos 81 eleitos para destituir ou não a presidente - um "golpe contra os 54 milhões de brasileiros que a elegeram", enfatizaram os seus apoiantes na 31.ª e última reunião da comissão.
O relatório - previa-se, e os opositores da Presidente foram dizendo que apenas cumpriam um ritual - concluiu que Dilma cometeu crimes de responsabilidade, ao aprovar decretos para despesas sem aprovação orçamental prévia do Congresso e ao permitir atrasos no reembolso de bancos estatais por bonificações a agricultores do Plano Safra ("pedaladas fiscais"). "Dilma é a maior ciclista orçamentária da nação", ironizou o pastor evangélico Magno Malta, do Partido da República.
PT e Partido Comunista do Brasil (PC do B) contrapõem: não há crime, porque o próprio Ministério Público acabou por reconhecer que as "pedaladas" o não são e porque os três decretos em causa (de seis iniciais) são "iguaizinhos" aos de presidentes anteriores e do próprio vice-presidente - "o usurpador Temer", presidente interino.
"É golpe!", sustentam o PT e o PC do B, reputando o relatório uma "fraude" - termo que o presidente da comissão, Raimundo Lira, do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB, que suporta Temer), não aceitou e mandou retirar do texto da ata, apesar de protestos de "petistas" e comunistas, esmagados pela "maioria circunstancial que transformou o Congresso em colégio eleitoral de exceção" (Vanessa Grazziotin, do PC do B), ou pela "aliança de parlamentares com as elites do país" (Lindbergh Farias).