Sob risco de fuga, Bolsonaro enfrenta buscas policiais e coloca pulseira eletrónica
Ordem do Supremo Tribunal Federal, esta sexta-feira, é resposta ao apoio de ex-presidente brasileiro à guerra comercial lançada pelos Estados Unidos. Washington pressiona por fim de processo de golpe de Estado.
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As ameaças de tarifas de 50% aos produtos brasileiros pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que citou o processo judicial de golpe de Estado contra Jair Bolsonaro como um dos motivos, geraram o efeito contrário para o ex-chefe de Estado do Brasil. A Polícia Federal (PF) fez buscas na casa do político de extrema-direita, que começou a usar pulseira eletrónica e está a sofrer várias medidas restritivas com o objetivo de evitar uma fuga. Bolsonaro negou, todavia, que planeava sair do país.
Para além do dispositivo de monitorização, o conservador está impedido de sair de casa entre as 19 horas e as 7 da manhã, de usar as redes sociais e entrar em contacto com diplomatas estrangeiros ou aproximar-se de embaixadas. O antigo presidente está ainda proibido de comunicar com o filho, Eduardo Bolsonaro, deputado em licença que está nos EUA em campanha contra o processo judicial do pai.
Dólares apreendidos
A Polícia Federal apreendeu o telemóvel de Bolsonaro e encontrou, na residência em Brasília, 14 mil dólares (12 mil euros), oito mil reais (1200 euros). Uma pen, que será analisada, foi descoberta na casa de banho, além de uma cópia da petição da plataforma de vídeos americana Rumble, usada pela extrema-direita, na Justiça dos EUA contra o juiz do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.
A operação, que incluiu também buscas na sede do Partido Liberal, força política a qual Bolsonaro integra, ocorreu após um pedido de urgência da Procuradoria-Geral da República (PGR) para a instalação de uma pulseira eletrónica no arguido. De acordo com a PGR, há “indicativos da concreta possibilidade de fuga do réu e a manutenção de ações para obstruir o curso da ação penal”.
Relator no julgamento sobre a tentativa de golpe de Estado, Moraes autorizou tais medidas, afirmando que as condutas de Eduardo e Jair Bolsonaro são “flagrantes confissões da prática dos atos criminosos, em especial dos crimes de coação no curso do processo, obstrução de investigação de infração penal que envolva organização criminosa e atentado à soberania”. Ambos, argumenta o magistrado, “induziram, instigaram e auxiliaram Governo estrangeiro à prática de atos hostis ao Brasil e à ostensiva tentativa de submissão do funcionamento do STF aos Estados Unidos”.
Na decisão, confirmada posteriormente pelos pares de Moraes no STF, o juiz usa declarações recentes de Eduardo e Jair Bolsonaro nos média e nas redes. É referenciada a carta de Trump com a ameaça de uma guerra comercial.
“Suprema humilhação”
A defesa de Bolsonaro reagiu com “surpresa e indignação”. Após colocar a pulseira, o ex-presidente disse à Imprensa que a suspeita de fuga “é um exagero” e considerou a decisão uma “suprema humilhação”. Alegou que “o inquérito do golpe é um inquérito político” e que “nada de concreto existe ali”. Sobre o dinheiro apreendido, respondeu: “Sempre guardei dólar em casa, pô. Todo dólar pego lá tem recibo do Banco do Brasil”. Relativamente à pen, declarou que “nunca” usou uma.