Milhares apoiam sobrevivente do Holocausto após ameaça nas redes sociais em Itália
Liliana Segre foi uma das crianças sobreviventes do campo de concentração de Auschwitz durante a Segunda Guerra Mundial. A atual senadora de Itália recebe centenas de ameaças por dia nas redes sociais. Após uma medida decretada para ter escolta policial, a mulher recebeu uma manifestação de apoio que reuniu milhares de pessoas em Milão.
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Aos 89 anos, aconteceu quase o impensável a Liliana Segre. Após sobreviver ao campo de concentração de Auschwitz, durante a Segunda Guerra Mundial, a atual senadora italiana recebe atualmente quase 200 ameaças por dia nas redes sociais.
Tudo terá começado, segundo a revista "Time", após Liliana fazer parte de uma comissão no Parlamento italiano contra o racismo, a discriminação, o antissemitismo e o ódio online.
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As ameaças foram de tal ordem que em novembro a sobrevivente do Holocausto começou a ter escolta policial por razões de segurança. Esta terça-feira, Itália mostrou que o antissemitismo não é regra no país. Milhares de pessoas juntaram-se em Milão numa manifestação de apoio à senadora.
Entre os muitos anónimos presentes nesta marcha participaram também quase 1000 presidentes de câmara de 600 cidades de Itália (os principais organizadores desta manifestação). Cada um deles usou faixas com as cores da bandeira italiana.
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No centro de Milão, não faltaram vozes que cantavam o nome de "Liliana" ou entoavam a música de "Bella Ciao", conhecida canção de resistência antifascista em Itália. "Eu conheci o ódio. Eu sei o que é ser rejeitada pela sociedade", disse Liliana Segre à multidão. "Vamos deixar o ódio entregue aos anónimos dos teclados", acrescentou numa referência ao ódio online que lhe tem sido dirigido.
O crescimento da extrema-direita e do discurso de ódio no país não foi descontextualizado ou apagado desta manifestação. O partido de Matteo Salvini, a Liga Norte, uma das principais forças políticas de Itália, foi um dos muitos acusados pelo que tem acontecido a Liliana Segre.
O antigo ministro do Interior chegou a referir, de acordo com o "El País", que a comissão a que a sobrevivente do Holocausto pertencia era "comunista" e queria "condenar o nacionalismo".
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Matteo Salvini afirmou ainda que não aceitaria "mordaças" do sistema político. "Não faz sentido na Itália porque não há fascistas", defendeu.
Os incidentes antissemitas são cada vez mais comuns no país. A câmara municipal de Schio impediu no mês passado a colocação de "pedras-obstáculo", instalação artística que homenageia os sobreviventes do nazismo.
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Já em Roma, duas estátuas de professores judias e de um professor antifascista foram vandalizadas. As ruas nestas duas cidades onde ocorreram incidentes tinham sido batizadas com nomes de cientistas antissemitas antes da Segunda Guerra Mundial.
Liliana Segre será no futuro uma das responsáveis pelo Museu Nacional da Resistência, cuja construção foi anunciada esta semana em Milão.