Um acordo bipartidário de orçamento para manter o Governo dos EUA em funcionamento até março foi trocado por um novo plano do presidente eleito Donald Trump e Elon Musk. A proposta, um exemplo do grande poder do empresário na futura administração, foi rejeitada pelo Congresso, o que pode gerar uma paralisação federal.
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O acordo entre democratas, partidários do presidente cessante Joe Biden, e republicanos, que têm a maioria na Câmara dos Representantes e em breve controlarão as duas câmaras do Congresso, fora anunciado pelo speaker Mike Johnson, no final de terça-feira. A medida garantiria o financiamento do Executivo federal norte-americano até 14 de março, quase dois meses após a posse de Donald Trump.
O pacto incluía quase 100 mil milhões de dólares (96,3 mil milhões de euros) em apoio a desastres e 10 mil milhões de dólares (9,6 mil milhões de euros) em subsídios a agricultores. Outro ponto era um aumento do salário dos legisladores, o primeiro desde 2009.
No início da manhã de quarta-feira, Elon Musk começou uma série de mais de 150 publicações na sua própria plataforma X (antigo Twitter) contrárias ao acordo. O dono da Tesla e da SpaceX partilhou desinformação sobre o projeto, dando conta, por exemplo que a subida nos salários dos congressistas seria de 40% - quando, na verdade, seria de 3,8% -; que a proposta incluiria três mil milhões de dólares (2,9 mil milhões de euros) para a construção de um novo estádio em Washington, D.C.; e que a Ucrânia receberia mais um pacote de ajuda, no valor de 60 mil milhões de dólares (57,8 mil milhões de euros) - o que não está no texto.
Apesar de o líder da Câmara dos Representantes, Mike Johnson, ter ligado para Musk para o magnata parar com as publicações, segundo o jornal "The New York Times", a retórica parece que influenciou Trump. No final de quarta-feira, o presidente eleito publicou na rede social Truth que era contra o teto de gastos e referiu os aumentos dos ordenados dos congressistas, citando inclusive adversários políticos e o comité que investiga a invasão do Capitólio de 6 de janeiro de 2021.
"Os republicanos querem apoiar os nossos agricultores, pagar a ajuda por desastres e preparar o nosso país para o sucesso em 2025. A única forma de o fazer é com uma lei de financiamento temporária sem presentes democratas, combinada com um aumento do limite máximo da dívida. Tudo o resto é uma traição ao nosso país", acrescentou o conservador.
Trump e o vice-presidente eleito J. D. Vance fizeram campanha por uma proposta que, além de manter o financiamento do Governo norte-americano até março de 2025, retirava o teto de gastos até 2027. A medida foi rejeitada por 235 parlamentares (197 democratas e 38 republicanos), enquanto 174 membros da Câmara dos Representantes votaram favoravelmente (dois partidários de Biden e 172 do partido do conservador).
O fracasso do plano B, lançado esta quinta-feira à última hora pelo speaker, também um republicano, ameaça a permanência de Johnson na presidência da câmara baixa do Congresso. O político do Louisiana, que sucedeu a Kevin McCarthy no cargo, em outubro de 2023 - este destituído pelas alas mais trumpistas do "Grand Old Party" (GOP, como é conhecido o Partido Republicano) - tem tentado há semanas evitar uma paralisação.
Prazo termina à meia-noite
Para evitar a suspensão das atividades do Governo dos EUA, os congressistas precisam aprovar um orçamento até à meia-noite desta sexta-feira (cinco horas da manhã de sábado em Portugal continental). "Encontraremos outra solução", prometeu, sem adiantar detalhes, Johhnson.
A paralisação significaria uma pausa nas operações consideradas não-essenciais, afetando centenas de milhares de trabalhadores federais - alguns são dispensados durante o período, outros têm que trabalhar sem receber, com a expectativa de terem os salários pagos uma vez que as atividades retomem à normalidade. O FBI e a fiscalização das fronteiras mantêm-se ativos, assim como os serviços dos correios e de segurança nos aeroportos, mas parques nacionais encerrariam. Tropas permaneceriam nos seus postos, mas funcionários civis do Departamento de Defesa iriam para casa. Processos civis ficariam suspensos, porém ações criminais continuariam nos tribunais.
A interrupção do Executivo, que Musk afirmou ser melhor do que a aprovação do acordo bipartidário anterior, pode ser um dos primeiros efeitos do empresário em Washington, ainda antes de a futura Administração tomar posse. O magnata foi encarregado de cuidar do novo Departamento de Eficiência Governamental, estrutura fora do Governo que cortaria gastos, extinguiria agências e demitiria funcionários federais.
Tal episódio, mais do que demonstrar a influência do dono da Tesla sobre o presidente eleito, revela que o futuro chefe de Estado não conseguiu ainda domar a totalidade do "elefante" do GOP, mesmo com ameaças. O chumbo, noticiou o "The New York Times", foi causado não por moderados que normalmente desafiam Trump, mas por conservadores que geralmente o apoiam.