Stoltenberg diz que guerra é decisiva para a NATO e a UE. Eurodeputados criticam postura
O secretário-geral da Aliança Atlântica insistiu que a cooperação com a União Europeia (UE) é mais importante hoje do que alguma vez foi e que a guerra na Ucrânia é decisiva para as duas organizações.
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"Fortalecer a cooperação entre a Organização do Tratado do Atlântico Norte [NATO] e a UE tem sido uma prioridade para mim. Eu acredito nessa cooperação por partilharmos valores, somos duas organizações diferentes, mas com muito, muito, em comum", disse Jens Stoltenberg, durante uma audição no Comité de Negócios Estrangeiros do Parlamento Europeu, em Bruxelas.
A União Europeia é uma organização político-económica, enquanto a NATO é uma instituição político-militar.
"Há 600 milhões de cidadãos da UE a viver em países da NATO", acrescentou o secretário-geral da Aliança Atlântica, que lembrou que a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e o líder do Conselho Europeu, Charles Michel, participaram na cimeira da NATO, em julho, e o próprio Jens Stoltenberg já participou em reuniões do Conselho.
"Podemos estar orgulhosos de como nos movimentámos nos últimos anos. [A nossa cooperação] sempre foi importante, mas a guerra na Ucrânia fez dela ainda mais importante. É a maior guerra na Europa desde a Segunda Guerra Mundial", declarou.
E desde 24 de fevereiro de 2022, completou Jens Stoltenberg, o presidente russo, Vladimir Putin, "cometeu, pelo menos, dois erros estratégicos". "O primeiro, e mais importante, subestimou os ucranianos, a sua força, compromisso e coragem, da população, liderança política e das forças armadas; o outro foi subestimar-nos, à nossa vontade e compromisso de apoiar a Ucrânia com sanções económicas e apoio militar. O nosso apoio permitiu aos ucranianos começarem a sua contraofensiva", completou o responsável pela organização que é composta por 31 países.
Contudo, o secretário-geral da NATO considerou que é necessário melhorar "a interoperabilidade" entre as forças armadas dos países que estão na UE e na NATO, apesar de a maioria dos países do bloco comunitário pertencer às duas organizações.
Eurodeputados criticam postura da NATO sobre Ucrânia
Os eurodeputados criticaram as declarações do secretário-geral da NATO sobre a guerra na Ucrânia e o apoio àquele país invadido, a falta de atenção a outras partes do planeta e a redefinição da estratégia para a China.
A eurodeputada irlandesa Clare Daly, do grupo político The Left (Esquerda Unitária Europeia e Esquerda Nórdica Verde), disse que as declarações de Jens Stoltenberg sobre o progresso da Ucrânia na contraofensiva estão erradas: "Isso não é verdade. A Ucrânia perdeu território, meio milhão de homens [militares] morreram, há homens a pagar para sair do país, outros escondidos em casa... Esta é agora uma guerra de atrito e é cruel continuá-la".
O eurodeputado polaco Witold Jan Waszczykowski, dos Conservadores e Reformistas Europeus, considerou que a cimeira da NATO em Vilnius "foi boa, mas não foi tão boa quanto a de Varsóvia" (2016), e que não houve decisões concretas, nomeadamente para aumentar o número de tropas da Aliança Atlântica no flanco leste e que "não há um comando regional da NATO" para defender o território que está mais próximo da Rússia.
Já o espanhol Antonio López-Istúriz White, do Partido Popular Europeu, pediu mais atenção para o flanco sul e para a atividade de organizações que estão a operar em África, aludindo à presença do grupo mercenário Wagner naquele continente e cuja estabilidade geopolítica está a deteriorar-se.
A crítica mais dura chegou pela intervenção do eurodeputado Mick Wallace, do The Left, que considerou que o secretário-geral da Aliança Atlântica "ridicularizou" o plano de paz apresentado por Pequim, em fevereiro: "Disse que a China não tem credibilidade".
Mick Wallace alargou condenou o "imperialismo ocidental" dos Estados Unidos que a NATO acompanha, nomeadamente a redefinição da estratégia para a China - que a União Europeia também quer reenquadrar. "Como é possível subverter uma ordem mundial que não tem Constituição ou bases na lei internacional? Porque é que a NATO e os membros da NATO violaram repetidamente a lei internacional? Jugoslávia, Iraque, Afeganistão, Síria, Líbia, por exemplo... Há 40 anos que a China não invade ilegalmente ou bombardeia um país soberano. Os Estados Unidos dificilmente deixaram de o fazer nos últimos anos", criticou.
Para o eurodeputado, só a diplomacia pode resolver o conflito na Ucrânia e outras questões que estão a fazer oscilar a geopolítica internacional. "Sabíamos que ia ser uma contraofensiva sangrenta e difícil", começou por responder o secretário-geral da NATO: "Há camadas de linhas defensivas [russas], com trincheiras, obstáculos, dentes de dragão [estrutura piramidal para impedir o avanço de carros de combate] e uma quantidade enorme de minas. Nunca vimos tantas minas num campo de batalha como as que vemos hoje na Ucrânia".
Dos 31 países que estão na NATO, 22 são da UE: Alemanha, Bélgica, Bulgária, Chéquia, Croácia, Dinamarca, Eslováquia, Eslovénia, Espanha, Estónia, Finlândia, França, Grécia, Países Baixos, Hungria, Itália, Letónia, Lituânia, Luxemburgo, Polónia, Portugal e Roménia.