Subornos, ex-espiões e prostitutas: a promessa da empresa que usou dados do Facebook para manipular eleições
Responsáveis da Cambridge Analytica, uma empresa de recolha e tratamento de dados sobre eleitores que trabalhou na campanha presidencial de Donald Trump em 2016, foram filmados a falar sobre o recurso a subornos, ex-espiões, identificações falsas e prostitutas.
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Uma investigação do Channel 4 News revela as estratégias utilizadas pela Cambridge Analytica, que diz ter trabalhado em mais de 200 eleições em todo o mundo, incluindo Nigéria, Quénia, República Checa, Índia e Argentina. A empresa tornou-se mais conhecida após a participação na campanha eleitoral que levou à eleição de Donald Trump para a Casa Branca em 2016, derrotando a democrata Hillary Clinton.
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A empresa está no centro de uma polémica com o Facebook, depois de os jornais "New York Times" e "Guardian" noticiarem que a empresa "Cambridge Analytica" foi capaz de aceder a informação pessoal de mais de 50 milhões de utilizadores do Facebook, sem a permissão destes, tendo criado perfis psicológicos baseados em informações pessoais de milhões de norte-americanos para categorizar os votantes.
Numa gravação através de câmara oculta, Alexander Nix, líder executivo da Cambridge Analytica, afirma que a empresa britânica de recolha e tratamento de dados sobre eleitores recorre a empresas sombra na internet em operações secretas em todo o mundo.
É terrível de se dizer, mas estas coisas não precisam necessariamente de ser verdadeiras desde que sejam credíveis
Quando questionado sobre recolha de dados de opositores políticos que os possam prejudicar na campanha eleitoral, Alexander Nix responde que podem "enviar algumas raparigas à casa dos candidatos", acrescentando que as mulheres ucranianas "são muito bonitas e trabalham muito bem".
Numa outra declaração, ouve-se: "Oferecemos uma grande quantia de dinheiro ao candidato, para financiar a sua campanha em troca de terras, por exemplo, gravamos tudo, confrontamos o indivíduo e revelamos tudo na internet".
"É terrível de se dizer, mas estas coisas não precisam necessariamente de ser verdadeiras desde que sejam credíveis", defendeu.
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Oferecer subornos a titulares de cargos públicos é crime tanto na legislação britânica como norte-americana. A Cambridge Analytica opera no Reino Unido mas está registada nos Estados Unidos.
Os responsáveis da empresa foram filmados em vários encontros em hotéis de Londres durante quatro meses, entre novembro de 2017 e janeiro de 2018. Um jornalista do Channel 4 News infiltrou-se como contratado por um cliente que queria ser eleito no Sri Lanka. "Utilizamos vários meios, na sombra, e espero construir consigo uma longa e reservada relação", disse-lhe Alexander Nix.
Mark Turnbull, um diretor da empresa, acrescentou que divulgam discretamente informações nas redes sociais e na internet. "Pomos informação na internet, ficamos a ver aquilo crescer e damos um incentivo de vez em quando... como um controlo remoto. Tem de acontecer sem ninguém pensar 'isto é propaganda' porque no momento em que se pensa 'isto é propaganda' a próxima questão é 'quem lançou isto?'".
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"Muitos dos nossos clientes não querem ser vistos a trabalhar com empresas estrangeiras... por isso, muitas vezes, arranjamos identificações e sites falsos, podemos ser estudantes a fazer projetos de investigação para uma universidade, podemos ser turistas, há tantas opções possíveis. Tenho muita experiência nisto", acrescentou Alexander Nix para "angariar" mais um cliente, sem desconfiar que era um jornalista infiltrado.
Depois da revelação do escândalo, o facebook, e Mark Zuckerberg, estão sob pressão nos EUA e no Reino Unido e estão a ser chamados a dar explicações sobre o uso dos dados pessoais dos seus utilizadores.