Uma equipa de investigadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro descobriu que a árvore Trema micrantha Blume, nativa do Brasil, contém canabidiol, componente químico presente na canábis e que não provoca efeitos psicoativos, nem dependência, e que se tem mostrado promissor no tratamento de diferentes doenças.
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A grande descoberta da equipa do biólogo Rodrigo Moura Neto prende-se com o facto de ter identificado o canabidiol, ou CBD, na espécie Trema micrantha Blume, mas não ter encontrado o ingrediente psicoativo da canábis: o tetrahidrocanabinol, ou THC. Ou seja, isto permite utilizar a susbtância medicinal presente na canábis a favor da sociedade, mas sem as complicações associadas ao uso da droga, ilegal em muitos países.
O canabidiol tem sido apontado como tendo benefícios terapêuticos no tratamento de condições como epilepsia, autismo, ansiedade e dores crônicas, sem provocar efeitos psicoativos ou dependência. "Para mim, foi um prémio encontrar uma planta [com CBD, mas] que não tivesse THC, porque assim não existe a 'embrulhada' do psicotrópico", contou o biólogo de 66 anos Rodrigo Moura Neto à agência France-Presse (AFP). "O potencial é enorme", sublinha.
Árvore nativa do Brasil
A Trema micrantha Blume é uma árvore de crescimento rápido, nativa do Brasil, é facilmente encontrada e considerada uma erva daninha.
A equipa de dez cientistas do labortário da Universidade Federal do Rio de Janeiro recebeu 500 mil reais, cerca de 95 mil euros, em recursos públicos para expandir o projeto, que agora vai procurar identificar os melhores métodos para extrair a substância química da Trema e estudar a eficácia da mesma como substituta da canábis para fins medicinais.
De acordo com o cientista, transformar a descoberta - que ainda não foi publicada em nenhuma revista científica - num medicamento comercial pode levar entre cinco a dez anos. Moura Neto está ciente, no entanto, de que o CBD presente na espécie Trema pode não funcionar tão bem, ou nem mesmo funcionar, como a da canábis.