
As "cercas" invisíveis podem ser utilizadas em zonas onde é impossível instalar vedações físicas, como áreas húmidas, terrenos rochosos ou vegetação muito densa
Foto: AFP
Com cada vez mais países a aprovar esta nova tecnologia, que permite conter o gado através de coleiras com recurso a GPS, as "vedações virtuais" estão a ganhar terreno a nível global.
Corpo do artigo
Um novo equipamento virtual, desenvolvido na Noruega, pela startup "Nofence", tem como objetivo criar limites digitais para delimitar as zonas de pastagem de gado, através de coleiras com GPS, que mantêm os animais onde os agricultores os querem. Carregadas através da energia solar, as coleiras são controladas remotamente por intermédio de uma aplicação móvel, tendo a vantagem de permitir aos agricultores definir os locais de pasto e alterar os seus limites no telemóvel.
Segundo a empresa responsável pelo equipamento, o caráter flexível do acessório permite reduzir a dependência de alimentos suplementares e poupar tempo e mão de obra, que de outra forma seria dispensada a reparar vedações.
Além disso, de acordo com Lotte Valund, especialista do centro de investigação RISE Research Institutes of Sweden, as "cercas" invisíveis podem ser utilizadas em zonas onde é impossível instalar vedações físicas, como áreas húmidas, terrenos rochosos ou vegetação muito densa.
Como funcionam
Para controlar os animais, as coleiras emitem um sinal sonoro agudo, seguido de um choque elétrico ligeiro, se o aviso anterior for ignorado. Segundo a "Nofence", com o tempo, o gado aprende a reconhecer e a respeitar o som, mantendo-se em segurança dentro da área definida.
Durante o período de adaptação, o gado é treinado com uma vedação física, no interior da qual se definem os limites virtuais. Com o tempo, até 96% das interações com esse limite ocorrem através do sinal sonoro, sem necessidade do choque elétrico.
Os responsáveis pelo produto garantem que esta é uma solução viável já que os impulsos elétricos que utiliza são "bem mais suaves" do que os das vedações elétricas.
Importância de definir funções
Segundo a Euronews, embora os dados existentes sobre o stress que este equipamento provoca nos animais sejam muito reduzidos, um estudo sueco de 2022, desenvolvido por Lotte Valund, não encontrou indícios do aumento dos níveis de cortisol ao comparar o uso da vedação virtual com o da física.
Ainda assim, a investigadora considera relevante aprofundar o estudo. "É muito importante, para o futuro, definir claramente que funções a vedação virtual deve incluir para assegurar o bem-estar animal. Deve ser fácil para o animal adotar o comportamento correto. Se o sistema for concebido de determinadas formas, pode ser prejudicial. O animal precisa de ter tempo para se virar quando ouve o sinal sonoro", explicou.
Além disso, embora a "Nofence" ambicione tornar esta tecnologia central, há algumas dúvidas relativamente à sua eficácia.
"As coleiras dependem de baterias, dos sinais de GPS e da conexão móvel. Isso pode, por vezes, provocar interrupções, sobretudo em zonas remotas. Para alguns agricultores, funcionará muito bem e será usada de forma plena. Para outros, poderá complementar o sistema que já têm, pelo que uma abordagem não deve excluir outra", acrescentou a investigadora.
Embora muitos países europeus ainda proíbam a vedação virtual, vários, incluindo Espanha, Países Baixos, Noruega, Irlanda e Reino Unido, já aprovaram a sua utilização.
