O Supremo Tribunal do Brasil divulgou a gravação da conversa entre o presidente Michel Temer e o empresário Joesley Batista, na qual autoriza o pagamento de subornos a Eduardo Cunha.
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No dia em que o presidente do Brasil fez uma declaração ao país a anunciar que não vai renunciar ao cargo, o Supremo Tribunal Federal (STF) enviou à Presidência uma das gravações que deram origem à abertura de um inquérito a Michel Temer.
No registo áudio, que tem a duração de 39 minutos e que está a ser divulgado pelos meios de comunicação brasileiros, Michel Temer conversa com o empresário Joesley Batista e dá autorização ao pagamento de suborno ao ex-deputado Eduardo Cunha, preso por envolvimento nos casos de corrupção da Petrobras, para ficar calado. "Tem que manter isso, viu", afirma Michel Temer.
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Num outro trecho, Joesley Batista diz a Michel Temer que o grupo J&F (holding da qual a JBS faz parte) pagava a um procurador da República em investigações contra o grupo que decorrem na Justiça brasileira.
"Dei conta de um lado de um juiz, de outro lado um juiz substituto. Consegui um procurador dentro da força-tarefa que está também me dando informação e eu estou lá para trocar o procurador que está atrás de mim (...) Eu consegui colar um [procurador] no grupo. Agora eu estou tentando trocar", disse Joesley ao presidente brasileiro.
Em resposta, Michel Temer disse: "É, o que está investigando...".
O empresário da JBS também explicou que estaria a defender-se e disse ainda pagava 50 mil reais (13,3 mil euros) ao procurador que estaria infiltrado passando-lhe informações.
Na conversa, o presidente brasileiro indicou o deputado Rodrigo Rocha Loures como homem de confiança com quem Joesley Batista deveria tratar. Rodrigo Rocha Loures foi filmado pela polícia brasileira a receber 500 mil reais (133 mil euros) a mando de Joesley Batista.
Transcrição divulgada na Imprensa brasileira:
Joesley Batista: Queria primeiro dizer: estamos junto aí. O que o senhor precisar de mim, viu, me fala. Queria te ouvir um pouco, presidente. Como tá nessa situação toda, Eduardo, não sei o que, Lava Jato.
Michel Temer: O Eduardo resolveu me fustigar. Você viu que... Eu não tenho nada a ver com a defesa. O Moro indeferiu 21 perguntas dele que não tem ada a ver com a defesa dele. Eu não fiz nada [inaudível].
Joesley: Eu queria falar assim. Dentro do possível, eu fiz o máximo que deu ali, zerei tudo, o que tinha de alguma pendência daqui para ali, zerou tudo. E ele foi firme em cima e já estava lá, veio, cobrou, tal, tal, tal. Pronto. Acelerei o passo e tirei da fila. [Inaudível] O outro menino, companheiro dele que tá aqui, né? [Inaudível] O Geddel sempre estava... [barulho] O Geddel é que andava sempre ali, mas o Geddel também, com esse negócio, eu perdi o contato porque ele virou investigado, agora eu não posso, também...eu não posso encontrar ele.
Temer: É, cuidado, vai com cuidado. (inaudível) obstrução da Justiça (inaudível)
Joesley: Agora... o negócio dos vazamentos. O telefone lá [inaudível] com o Geddel, volta e meia citava alguma coisa meio tangenciando a nós, e não sei o que. Eu estou lá me defendendo. Como é que eu... o que é que eu mais ou menos dei conta de fazer até agora. Eu tô de bem com o Eduardo, ok...
Temer: Tem que manter isso, viu... [Inaudível]
Joesley: Todo mês, também, eu estou segurando as pontas, estou indo. Esse processo, eu estou meio enrolado, assim, no processo [inaudível]...
Joesley: É investigado. Eu não tenho ainda denúncia. Então, aqui eu dei conta de um lado do juiz, então eu dei uma segurada, do outro lado do juiz substituto que é um cara que ficou...
Temer: Está segurando os dois...
Joesley: É, estou segurando os dois. Então eu consegui um procurador dentro da força tarefa que também tá me dando informação. E lá que eu estou para dar conta de trocar o procurador. Se eu der conta tem o lado bom e o lado ruim. O lado bom é que dá uma esfriada até o outro chegar e tal, e o lado ruim é que se vem um cara com raiva...