Depois de vários mísseis atingirem as águas que envolvem Taiwan, cinco foguetes lançados por Pequim caíram na Zona Económica Exclusiva do Japão. Especialista diz que manobras são "exibição de força" militar.
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Algumas horas após a China iniciar exercícios militares em torno de Taiwan, esta quinta-feira, o Japão anunciou que a Zona Económica Exclusiva (ZEE) do país também tinha sido atingida por cinco mísseis. De acordo com o ministro da Defesa japonês, Nobuo Kishi, foi a primeira vez que mísseis balísticos disparados pela China terão caído no mar nipónico. Jorge Tavares da Silva, especialista em assuntos chineses da Universidade de Aveiro, acredita que o episódio terá consequências nas relações bilaterais.
"Suspeitamos que cinco mísseis balísticos terão caído na ZEE do Japão", comunicou Kishi, acrescentando que o país "já apresentou um protesto à China por via diplomática. Ao considerar que a situação afeta diretamente a segurança nacional, o governante classifica o ocorrido como um "problema grave" que, segundo Jorge Tavares da Silva, poderá ter consequências diretas nas relações diplomáticas dos dois países caso "se confirme que estas ações são intencionais e, sobretudo, continuadas".
Na perspetiva do investigador, a "China está a ir um pouco mais longe do que em demonstrações de força anteriores", lembrando que "ainda que este tipo de manobras seja uma exibição de força, teme-se que um cálculo errado possa espoletar um conflito armado sério e alargado" na região do Pacífico.
Mas tendo em conta que o principal problema da China é com Taiwan e com os EUA, o que leva Pequim a arrastar o Japão para o ambiente de tensão? O docente da Universidade de Aveiro refere que pode haver duas explicações. Primeiro, porque "o Japão é um velho rival da China na região, e é um grande parceiro um oferece apoio aos Estados Unidos da América, o que desagrada à China".
Mensagem de alerta
Por outro lado, observa o especialista em Relações Internacionais, o dia "ficou ainda marcado pela chegada de Nancy Pelosi ao Japão, no seguimento do seu périplo pela Ásia", o que pode ser visto como uma "mensagem de alerta".
Embora não consiga precisar se o lançamento de mísseis para a ZEE nipónica foi intencional, Jorge Tavares da Silva relembra que, nos últimos anos, "o Japão mudou muito a sua relação com a China, particularmente na era de Shinzo Abe, um dos construtores do Quad, o Diálogo de Segurança Quadrilateral".
Recentemente, recorda o analista, a China também teve razões para apontar o dedo a Tóquio, já que "o país participou recentemente na reunião da NATO como membro observador", o que pode ter sido mal visto pelo regime chinês.
A espiral de acontecimentos mais recentes pode impulsionar um resfriar nas relações bilaterais dos dois gigantes asiáticos, sendo que "depois deste episódio, tenderão a agravar-se".