É pela música que a cantora pop chinesa Tan Weiwei luta contra a misoginia e a violência sobre as mulheres.
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Enquanto canta o mais recente álbum numa performance exibida em direto na televisão, Tan Weiwei faz mais do que cantar. Acompanhada por um grupo de mulheres que atiram para o chão os óculos de sol, como que a pedir para serem vistas, olhadas nos olhos, passa uma mensagem incomum no panorama musical pop chinês: faz uma crítica contra a violência doméstica, que tem cativado centenas de milhares de mulheres chinesas desde o lançamento do disco.
Pelas letras, Tan combate a misoginia e a culpabilização da vítima, fazendo referência a casos específicos de violência contra mulheres que dominaram as manchetes dos jornais do país este ano. E será também pioneira numa luta ainda tabu que é feita através da música.
O título do novo álbum de Tan - "3811" - faz referência à idade da cantora (38) e às 11 músicas que nele constam e que narram as histórias de mulheres chinesas da vida real, desde uma mãe solteira motorista de táxi até uma menina de 12 anos que conhece a puberdade. Em "Xiao Juan" - a música mais marcante do álbum cujo título é o nome frequentemente dado às vítimas de crimes violentos na China - a cantora reconhece-as como indivíduos reais: "Os nossos nomes não são Xiao Juan. Saiba o meu nome e lembre-se dele." E canta sobre casos concretos como o de uma influenciadora digital que morreu depois de ter sido queimada viva pelo ex-marido, durante uma transmissão em direto. Como o de uma mulher desmembrada pelo companheiro, que atirou para uma fossa as partes do corpo da pessoa com quem casara um dia. Como o de uma mulher encontrada esquartejada dentro de uma mala. Como o de uma mulher morta e colocada dentro de um frigorífico.
Para o crítico de música chinês Postman (pseudónimo), o álbum é impressionante na medida em que dá a um grupo de mulheres aparentemente comuns um sentido de importância que não tinham. Representatividade. "Daqui a alguns anos, quando olharmos para trás, para este período de tempo, não estaremos apenas a ver filmes, livros, notícias e sites para saber o que aconteceu. Haverá também este álbum que gravou histórias e nomes de todas essas mulheres comuns que, de outra forma, teriam sido inteiramente esquecidas", disse à BBC.