
Os protestos foram reprimidos com violência
Foto: AFP
Vários civis foram mortos nas próprias casas "em represália" às manifestações antigovernamentais reprimidas com violência na Tanzânia, na sequência das eleições presidenciais de 29 de outubro, denunciaram esta sexta-feira várias organizações não-governamentais (ONG).
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"Os vídeos e imagens partilhados nas redes sociais desde o restabelecimento da internet mostram represálias mortais generalizadas contra jovens, muitas vezes apanhados de surpresa", afirmaram sete ONG tanzanianas, num comunicado conjunto.
Uma das ONG denunciou na rede social X que vários civis foram "mortos em represália, alguns nas suas próprias casas", incluindo um jornalista.
A Tanzânia tem tido dificuldades em recuperar da violência das manifestações contra o poder, que começaram em 29 de outubro, dia das eleições presidenciais e legislativas, ganhas pela presidente Samia Suluhu Hassan e do seu partido Chama Cha Mapinduzi, com 98% dos votos.
As eleições ficaram também marcadas por fraudes eleitorais, de acordo com a oposição tanzaniana e de observadores estrangeiros.
Os manifestantes protestaram em várias cidades do país, tendo os protestos eclodido na capital económica de Dar Es Salam, mas foram reprimidas com violência. As forças de segurança, inclusive, utilizaram gás lacrimogéneo.
Foto: AFP
O principal partido da oposição, o Chadema, avançou que pelo menos 800 pessoas morreram - um número que é corroborado por fontes diplomáticas e de segurança da agência de notícias France-Presse, sendo que o número total pode superar os milhares.
As autoridades tanzanianas bloquearam o acesso à internet durante cinco dias, impedindo a publicação de fotografias e vídeos das vítimas, ainda que tenham acabado por chegar às redes sociais logo depois do bloqueio.
"Circulam numerosos vídeos que mostram o uso excessivo da força, incluindo o recurso a balas reais e gás lacrimogéneo para dispersar manifestantes", muitos dos quais foram mortos, indicam as sete ONG em comunicado.
"É igualmente preocupante constatar o número crescente de testemunhos que relatam transeuntes e civis mortos nas suas casas, sem representarem qualquer ameaça", acrescentaram.
Foto: Marco Longari / AFP
Os massacres de represália "marcaram profundamente as famílias e as comunidades. Em algumas regiões, crianças viram os pais ser espancados, presos ou mortos", relataram as ONG.
As autoridades tanzanianas recusaram até agora divulgar qualquer balanço, limitando-se a mencionar "vidas perdidas".
