O jornal brasileiro "O Globo" afirma, este domingo, que o ex-presidente brasileiro, Lula da Silva, intercedeu junto de Passos Coelho para que o primeiro-ministro desse atenção aos interesses da Odebrecht num processo de privatização em Portugal.
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Citando telegramas diplomáticos, trocados entre Brasília e a embaixada brasileira em Portugal, o jornal diz que Lula terá falado com Passos sobre o processo de privatização da Empresa Geral de Fomento (EGF), anunciado pelo governo no início de 2014 e que veio a ser concluído em novembro do ano passado.
"Repercutiu positivamente na mídia recente declaração do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em entrevista à RTP no dia 27/04 último, no sentido de que o Brasil deve se engajar mais ativamente na aquisição de estatais portuguesas. O ex-presidente também reforçou o interesse da Odebrecht pela EGF ao primeiro-ministro Pedro Passos Coelho, que reagiu positivamente ao pleito brasileiro", informou o embaixador brasileiro em Lisboa, Mário Vilalma.
O periódico salienta que a conversa se deu em privado e que a informação oficial sobre o encontro, que aconteceu a 24 de abril de 2014, referiu que Lula e Passos Coelho teriam "falado apenas da situação económica mundial e da Copa no Brasil".
A reunião foi registada pelo Instituto Lula, que em resposta ao jornal O Globo, reiterou que "o ex-presidente não atuou em favor da Odebrecht, nem fez gestão a favor da empresa", referindo que Lula da Silva se limitou a comentar "o interesse da empresa brasileira pela empresa portuguesa (...) que, aliás, era público há muito tempo".
Recorde-se que Lula está a ser investigado pela Justiça do Brasil pelo suposto envolvimento em tráfico de influência no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para induzir a instituição a financiar obras da Odebrecht no estrangeiro. A investigação a Lula também refere que o ex-presidente brasileiro alegadamente ajudou a Odebrecht a obter contratos durante viagens para África e na América Latina, entre 2011 e 2014, quando já não era chefe de Governo.
Em sua defesa, Lula tem argumentado que a sua relação com a maior construtora do Brasil, a Odebrecht, se limitou à sua contratação para proferir palestras. A empresa nega também ter usado Lula para ter vantagens para os seus negócios.
Mas os documentos agora publicados mostram, diz "O Globo", que a relação de Lula com a empresa é de grande intimidade, aliás como sustenta a investigação que suspeita que Lula é culpado de crime de "tráfico de influência em transação comercial internacional", a favor da construtora.
O jornal lembra que "o foco da investigação será apurar se a atividade de lobby também foi remunerada. Para isso, o ex-presidente e a Odebrecht poderão ter o sigilo fiscal, bancário e telefónico quebrados".
A Odebrecht não fez nenhuma proposta para tentar ganhar o negócio e a a EGF acabou por ser vendida ao consórcio Suma.
O jornal refere também viagens de Lula a Cuba com o apoio da Odebrecht e aponta que, numa delas, chegou a ser recebido no hotel por Marcelo Oderbrecht, na altura presidente da empresa, e que agora se encontra detido no âmbito da operação Lava Jato, a investigação sobre corrupção que envolve centenas de suspeitos, dezenas de políticos e empresa estatal brasileira Petrobrás.
O ex-presidente brasileiro pediu no sábado a suspensão do inquérito que o investiga por tráfico de influências no Ministério Publico Federal em Brasília, alegando que houve irregularidades na abertura do processo.