"Maratona informativa" leva notícias a casa dos ucranianos 24 horas por dia, sete dias por semana. Transmissões são feitas a partir de estúdios secretos, para evitar ataques russos.
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Um decreto presidencial impôs a criação da "Notícias Unidas", uma plataforma que reúne os quatro principais canais de televisão ucranianos, com emissão 24 horas por dia, sete dias por semana. Todos os restantes meios de comunicação televisivos ucranianos são obrigados a transmitir os mesmos conteúdos informativos, produzidos a partir de estúdios secretos, de forma a evitar ataques das forças armadas russas. Há quem veja nesta medida uma limitação à liberdade de informação e expressão, mas Marichka Padalko, uma das pivôs com mais notoriedade daquele país, defende que a "Notícias Unidas" é um "símbolo da normalidade ou uma espécie de conexão com a anterior vida dos telespetadores".
Dois dias após a invasão levada a cabo pela Rússia, os principais canais televisivos agruparam-se para criar uma "maratona noticiosa", que levasse ao povo ucraniano notícias 24 horas por dia, durante sete dias por semana. Com períodos temporais definidos, cada canal continuou a produzir os seus conteúdos informativos, mas também passou a transmitir reportagens elaboradas por concorrentes.
As peças informativas são transmitidas a partir de estúdios secretos e que não possam ser atingidos por ataques do exército russo. E há sempre apresentadores e equipas de reportagem de prevenção para entrar no ar em caso de necessidade. ""É algo como se a BBC, ITV, Canal 4 e Canal 5 se juntassem. Tecnicamente, não estamos unidos, pois estamos todos em locais diferentes, mas todos os canais têm agora o seu próprio horário, seis horas por dia. Às vezes, estamos de manhã, às vezes à noite", explicou Marichka Padalko, ao jornal inglês The Guardian.
Apoio psicológico e conselhos práticos
Em cada emissão há entrevistas a técnicos em saúde mental, que dão conselhos sobre a melhor forma de enfrentar as agruras da guerra, ou a especialistas em temas mais práticos. "Temos convidados que podem falar sobre evacuações ou pessoas que lidam com os perigos das armas químicas, aconselhando as pessoas a comprar algo para se protegerem de qualquer possível ataque", disse a apresentadora.
Padalko acrescentou que a transmissão televisiva acolhe "psicólogos, pelo menos uma vez por semana, que aconselham [os telespectadores] a não se sentirem culpados por terem saído das suas cidades de origem ou a não odiarem as pessoas que saíram".
A decisão governamental de "unificar" canais de televisão foi justificada com a necessidade de combater a desinformação russa. No entanto, gerou algumas críticas e houve quem falasse num ataque à liberdade de expressão. Marichka Padalko não concorda com esta última tese. "Ninguém nos dá instruções. Só nos foi pedido, logo no início, para sermos mais solidários com uma audiência que está a atravessar tempos difíceis", assume.