Saída do ministro das Finanças e revés na descida de impostos deixam Liz Truss sob pressão para se demitir. Conservadores conspiram para substituir líder.
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Uma chuva de críticas ao "mini-orçamento", desenhado por Kwasi Kwarteng, agora ex-ministro das Finanças, em conjunto com a chefe do Governo britânico, Liz Truss, impulsionou a substituta de Boris Johnson a pedir ao governante que se demitisse do cargo, pouco mais de um mês depois do Reino Unido ter conhecido o novo Executivo. A saída de Kwarteng e os passos atrás que tem sido obrigada a dar nas políticas financeiras colocam a conservadora - apelidada por muitos como a nova "dama de ferro" do país - sob pressão para abandonar Downing Street.
"A minha prioridade é garantir a estabilidade económica que o nosso país necessita", justificou Liz Truss, referindo-se à decisão "difícil" que tomou em prol do "interesse nacional". No poder desde 6 de setembro, a líder dos tories assegurou que mantém a missão de "elevar os níveis de crescimento económico", depois de ter sido alertada pelo Fundo Monetário Internacional das prováveis consequências desastrosas das medidas arquitetadas.
Decidiu ontem dar um passo atrás e reconduzir o plano financeiro anunciado recentemente. Truss informou que vai subir o imposto para as empresas de 19% para 25%, deixando cair por terra as promessas de fazer cortes nas taxas de tributação. O recuo foi anunciado pouco tempo depois de o Executivo britânico comunicar a necessidade de fazer uma inversão na taxa aplicada aos rendimentos mais altos e de o Banco de Inglaterra se ter visto obrigado a comprar dívida para estabilizar os mercados financeiros.
Embora o antigo titular da pasta das Finanças se mostre concordante com as mais recentes decisões tomadas pela chefe de Governo, ao explicar que "o ambiente económico mudou muito rapidamente" desde que o "mini-orçamento" foi apresentado ao país, Liz Truss não se livrou de uma avalanche de críticas, sendo acusada de afastar Kwarteng para salvar a própria pele.
"Primeira-ministra manca"
"Esta foi a pior conferência de imprensa que já vi ao longo de uma década e meia", "estava com os olhos tapados enquanto ela falava" ou "Deus sabe onde estaremos na segunda-feira, quando os mercados reabrirem" terão sido algumas das mensagens trocadas em grupos de WhatsApp entre membros do Partido Conservador, expôs o jornalista da BBC, Iain Watson.
No Twitter, o jornalista Nicolas Watts, da mesma emissora, antecipou que tem conhecimento de reuniões entre conservadores preponderantes que visam pressionar Truss a demitir-se, colocando o lugar de vago para a ascensão de Rishi Sunak ou Penny Mordaunt - que também marcaram presença na mais recente corrida ao cargo de primeiro-ministro.
Em entrevista à rádio britânica 4 PM, Chris Loder, deputado conservador que se tem mostrado leal à chefe de Governo, disse estar "dececionado" com o revés nos impostos e avançou, que apesar de querer continuar a ver a líder no cargo, o mesmo pode não acontecer entre os restantes parceiros políticos.
Do lado da oposição, Keir Starmer, líder dos trabalhistas, também reagiu negativamente às declarações da primeira-ministra. "Temos um Governo a desmoronar", destacou, em declarações à BBC, acrescentando: "Não precisamos de uma mudança de ministro, precisamos de uma mudança de Governo". A opinião é partilhada por Ed Davey, líder do partido Liberal Democrata, sugerindo que está na "altura de o povo ter uma palavra a dizer".
Nicola Sturgeon, primeira-ministro da Escócia, foi mais áspera nas palavras e defendeu que Liz Truss é agora uma "primeira-ministra manca" que "obrigou" o antigo ministro das finanças a "suportar a carga das decisões que tomou".
Ainda que assuma que o país está a passar por "um momento difícil", Truss assegurou que vai continuar a missão de liderar o país, mas o frágil cenário político tem levado a imprensa britânica a antecipar uma nova eleição, que poderia culminar com uma possível substituição de Truss por consenso entre os tories.
Um escrutínio convocado pela primeira-ministra a nível nacional, onde os cidadãos seriam chamados às urnas, poderia ser catastrófico para o partido, já que as sondagens mais recentes colocam os conservadores em segundo lugar nas intenções de voto, dando preferência aos trabalhistas.
Por enquanto, Truss mantém-se como o rosto de poder e a pasta das Finanças passou para as mãos de Jeremy Hunt, que, no passado, já foi ministro dos Negócios Estrangeiros, da Saúde e da Cultura.