A Rússia deu mais uma demonstração de força militar, este sábado, com Vladimir Putin a supervisionar exercícios envolvendo mísseis com capacidade nuclear, horas depois de os Estados Unidos terem dado como certo os planos de Moscovo de invadir a Ucrânia nos próximos dias.
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O aumento dos confrontos nas regiões separatistas de Donetsk e Lugansk, apoiadas por Moscovo, que já levou à retirada de civis e à morte de um soldado ucraniano este sábado, faz crescer receios de um grande conflito na Europa, ao fim de semanas de uma escalada de tensões. Os dramáticos alertas dos EUA, que antecipam uma invasão russa à Ucrânia "nos próximos dias", fazem soar alarmes e, do lado russo, o Kremlin tanto põe água na fervura como aumenta o lume. Isto enquanto o ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano, Dmytro Kouleba - que foi com o presidente do país à Conferência de Segurança de Munique, na Alemanha, para reforçar o apoio entre os aliados ocidentais - diz que Kiev está preparada "para todos os cenários".
O secretário-geral da NATO alertou que a Rússia terá uma resposta à altura em caso de invasão. "Se o objetivo do Kremlin é ter menos NATO nas suas fronteiras, só terá mais", prometeu Jens Stoltenberg na Conferência de Segurança de Munique.
Nos últimos dias, a Rússia tinha anunciado a retirada de forças militares perto da Ucrânia, acusando o Ocidente de "histeria" com alegações de um plano de invasão quando em causa estariam apenas exercícios militares regulares. Mas, ao mesmo tempo, Putin intensificou o discurso, exigindo aos aliados da Ucrânia que levem a sério as exigências russas no que diz respeito à segurança do país, que, para Moscovo, estaria ameaçada no caso de a Ucrânia integrar a NATO (o Kremlin quer garantias por escrito de que a Ucrânia nunca se poderá juntar à aliança militar transatlântica). E, este sábado, o líder russo está a supervisionar pessoalmente exercícios com mísseis de capacidade nuclear.
O Ministério da Defesa russo disse que os exercícios de hoje servem para testar lançamentos de mísseis balísticos e de cruzeiro, envolvendo quase todos os ramos das Forças Armadas da Rússia, incluindo as forças aeroespaciais e de foguetes estratégicos, bem como as frotas do Norte e do Mar Negro, que têm submarinos com armas nucleares. "Putin, provavelmente, assistirá aos exercícios do centro de situação", afirmou o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, notando que este tipo de lançamento é impossível sem a presença do chefe de Estado.
Aviso de Biden e "aumento dramático" nos confrontos
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A Rússia continua a negar planos de atacar o país vizinho, que irritou Moscovo ao aproximar-se da NATO e da União Europeia, mas os Estados Unidos estão convictos de que, com cerca de 150 mil soldados russos nas fronteiras com a Ucrânia (190 mil se incluídas as forças separatistas apoiadas pela Rússia no leste), Moscovo já se decidiu, podendo atacar a Ucrânia no espaço de "uma semana" ou mesmo "dias", estimou o presidente norte-americano. Falando ao Mundo a partir da Casa Branca, na sexta-feira, o democrata disse que tem razões para acreditar num ataque para breve, mostrando-se convicto de que os alvos incluem a capital Kiev, "uma cidade de 2,8 milhões de pessoas inocentes".
No leste da Ucrânia, a primeira linha de combate entre o exército ucraniano e os separatistas das regiões de Donetsk e Lugansk, apoiadas por Moscovo, viu um "aumento dramático" nas violações do cessar-fogo, avisaram monitores internacionais da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa. Centenas de ataques de artilharia e morteiros foram registadas nos últimos dias, num conflito que já dura há oito anos e matou mais de 14 mil pessoas, segundo a agência de notícias France-Presse.
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As forças armadas da Ucrânia acusaram os rebeldes de provocarem uma enorme nova onda de ataques, alegando que houve dezenas de trocas de tiros logo ao início da manhã, com um soldado ucraniano abatido por ferimentos de estilhaços. Os separatistas, que também acusaram as forças ucranianas de novos ataques no sábado, declararam mobilizações gerais nas duas regiões. E, na sexta-feira, anunciaram a retirada em massa de civis para a Rússia, onde o governador da região vizinha de Rostov declarou estado de emergência este sábado, quando vários milhares cruzaram a fronteira.
Moscovo e os separatistas russos acusaram Kiev de planear um ataque para retomar as regiões - alegações ferozmente negadas pela Ucrânia e descritas pelo Ocidente como parte dos esforços russos para fabricar um pretexto para a guerra.