As autoridades francesas prenderam um terceiro "influencer" argelino devido a mensagens violentas nas redes sociais contra opositores do regime ditatorial da Argélia, anunciou o ministro da Administração Interna francês, Bruno Retailleau.
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A detenção ocorreu depois de o representante do governo em Hérault (sul) ter denunciado um vídeo do homem, que vive em Montpellier e age sob o nome de "Doualemn", e cuja conta na rede social TikTok tem 138 mil seguidores.
O segundo criador de conteúdos detido em França na sexta-feira compareceu hoje perante um juiz e será julgado segunda-feira por “provocação direta a um ato de terrorismo”, anunciou Eric Vaillant, procurador de Grenoble (sudeste).
"Imad Tintin" publicou um vídeo apelando a “queimar vivos, matar e violar” os opositores ao regime argelino em território francês e que registou mais de 800 mil visualizações.
"Zazou Youssef" é o outro influenciador argelino cuja detenção foi conhecida na sexta-feira. Ficou em prisão preventiva até à data do julgamento, a 24 de fevereiro, na cidade bretã de Brest (noroeste), por incitamento à prática de um ato terrorista.
Vários dos vídeos dos detidos mencionavam diretamente Chawki Benzehra, um opositor do regime argelino que vive como refugiado em França e é muito ativo nas redes sociais.
Benzhera denunciou, este domingo, na rede social X, a “profusão de ameaças” que tem recebido, especialmente de França, depois de ter lançado um alerta sobre as atividades de alguns influenciadores argelinos e de ter visado vários outros além dos três detidos.
Tensão entre Paris e Argel
A França e a Argélia vivem atualmente uma fase de fortes tensões diplomáticas, sobretudo depois de o presidente francês, Emmanuel Macron, ter afirmado, a 30 de julho, que o plano de autonomia marroquino para o Sara Ocidental é “a única base” para uma solução da crise em que a antiga colónia espanhola está mergulhada há meio século.
Argel, principal apoiante da Frente Polisário, retirou imediatamente o seu embaixador em Paris e, desde então, tem registado várias atitudes de distanciamento.
No passado dia 29, o presidente argelino, Abdelmajid Tebboune, atacou a França, nomeadamente por causa da posição de Paris a favor da soberania marroquina sobre o Saara Ocidental.
Criticou também Paris por ter “provocado o caos” durante os 132 anos de colonização da Argélia e exigiu que sejam limpos os “resíduos nucleares” deixados no Saara argelino durante os testes de armamento ali feitos durante o período colonial.
Numa vasta extensão desértica de 266 mil quilómetros quadrados localizada a norte da Mauritânia, o Saara Ocidental - antiga colónia espanhola ocupada por Marrocos em 1975 - é o último território do continente africano cujo estatuto pós-colonial não está definido: Marrocos controla mais de 80% no oeste, a Frente Polisário menos de 20% a leste, todos separados por uma barreira de areia e uma zona tampão sob o controlo das forças de manutenção da paz da ONU.
Apesar da resistência do grupo Frente Polisario, com quem Marrocos esteve em guerra até 1991, as partes assinaram um cessar-fogo com vista à realização de um referendo de autodeterminação.
No final de 2020, os Estados Unidos - então sob a liderança do republicano Donald Trump - reconheceram a soberania marroquina sobre a antiga colónia espanhola, quebrando o consenso internacional sobre o estado atual do território disputado.
O último revés para o povo sarauí foi o apoio dos governos espanhol e francês ao plano de autonomia marroquino, uma mudança de posição descrita como traição pela Frente Polisário, que recorda também que Espanha ainda detém por direito o poder administrativo do Saara Ocidental.