O autor do atentado à bomba que matou 17 pessoas em Marrocos, entre os quais um português, tentou entrar em Portugal, em 2004, mas a polícia travou -lhe o passo em Leixões. A acção ocorreu logo após o Euro, quando foram tomadas medidas extremas de segurança.
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A informação relativa à presença em Portugal do terrorista marroquino foi adiantada pelo ministro do Interior daquele Estado do Magrebe, Taieb Cherkaui, numa conferência de Imprensa, onde foi anunciada a detenção dos três suspeitos da autoria do atentado, ligado à al-Qaeda. Taieb disse que o principal suspeito da colocação da bomba em Marraquexe, a 28 de Abril, na turística praça de Jamâa El-Fna, tinha estado em Portugal, em 2004, na Síria, em 2007, e na Líbia, em 2008, países onde tinha sido detido e expulso.
O indivíduo, Adil El-Atmani, uma identidade que, esta sexta-feira, foi fornecida por Marrocos a Portugal para efeitos da investigação do percurso do terrorista. Mas fontes policiais portuguesas adiantaram, ao JN, que o suspeito nunca chegou a entrar em Portugal, uma vez que foi barrado à entrada na fronteira, em Agosto.
De acordo com o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), Adil El-Atmani foi detido no porto de Leixões, quando tentava entrar no nosso país de forma clandestina, por via marítima, tendo sido, depois, levado sob escolta policial para Marrocos, onde foi entregue às autoridades locais.
Sem informações
A detenção ocorreu dois meses depois de a então Direcção Central de Combate ao Banditismo, agora Unidade Nacional de Combate ao Terrorismo, da PJ, ter realizado uma operação no Porto contra um grupo islâmico suspeito de terrorismo, o Hofstad, com sede na Holanda, no âmbito da segurança do Euro 2004, que terminou em Julho, e onde chegou a ser investigada a possibilidade de um atentado islâmico ao então primeiro-ministro, Durão Barroso. Mas fontes policiais garantiram ao JN que o agora suspeito do atentado em Marraquexe nada tinha a ver com o Hofstad.
José Manuel Anes, presidente do OSCT, e especialista em segurança, frisou, porém, ao JN, a proximidade geográfica com Marrocos e destacou que têm sido encontrados vários testemunhos da utilização de Portugal enquanto ponto de apoio para o terrorismo, islâmico e da ETA.
Confrontado pelo JN, José Anes admitiu como sendo uma fragilidade para a segurança nacional o facto de Portugal, no âmbito da política de restrição orçamental, ter perdido no ano passado a "antena" de que dispunha em Marrocos - à semelhança do que aconteceu em outros Estados.
A "antena" era constituída por um oficial de ligação do SIED, em permanência, naquele país, que passava a Portugal informação sobre o terrorismo e o tráfico de droga. Os cortes acabaram por conduzir ao "bater de porta" de Jorge Silva Carvalho, director do SIED.