Estátuas de bronze preservadas durante milhares de anos por lama e água a ferver foram descobertas numa rede de banhos construída pelos etruscos na Toscana, em Itália.
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Arqueólogos encontraram as estátuas durante as escavações no antigo spa em San Casciano dei Bagni, perto de Siena. De acordo com o jornal britânico "The Guardian", as 24 estátuas parcialmente submersas, que datam de há 2300 anos, foram aclamadas como a descoberta mais significativa do seu género em 50 anos.
Perto do "ephebe" (um adolescente do sexo masculino, tipicamente entre 17 e 18 anos) e Higeia, a deusa da saúde, estava uma estátua de Apolo e uma série de outras que representavam matronas, crianças e imperadores.
A análise inicial das 24 estátuas, que se acredita terem sido feitas por artesãos locais entre os séculos II e I a. C., indicam que as relíquias terão pertencido originalmente a famílias etruscas e romanas da elite, proprietários de terras, senhores locais e imperadores romanos.
Ao lado das estátuas, cinco das quais com quase um metro de altura, os arqueólogos encontraram ainda milhares de moedas, além de inscrições etruscas e latinas. Segundo os investigadores, os visitantes atiravam moedas para os banhos para terem, em troca, boa saúde.
O projeto de escavação em San Casciano dei Bagni é liderado pelo arqueólogo Jacopo Tabolli desde 2019. Em agosto, vários artefactos, incluindo estátuas de fertilidade que se pensava terem sido usadas como ofertas aos deuses, foram encontrados no local.
Benefícios terapêuticos e um refúgio de paz
A civilização etrusca prosperou na Itália, principalmente nas regiões centrais da Toscana e da Úmbria, durante 500 anos antes da chegada da República Romana. Os etruscos tiveram uma forte influência nas tradições culturais e artísticas romanas.
Os banhos, que incluem fontes e altares e que terão sido construídos pelos etruscos no século III a. C., tornaram-se mais opulentos durante o período romano, com imperadores como Augusto a frequentar as fontes pelos seus benefícios terapêuticos.
As relíquias representam um testemunho da transição entre os períodos etrusco e romano, sendo as termas consideradas um refúgio de paz. "Mesmo em épocas históricas em que estavam a acontecer os conflitos mais terríveis, dentro destas piscinas e nestes altares, os dois mundos, o etrusco e o romano, parecem ter coexistido sem problemas", explicou Tabolli.
As fontes termais de San Casciano dei Bagni, ricas em minerais, incluindo cálcio e magnésio, permaneceram ativas até ao século V, antes de serem fechadas durante os tempos cristãos. Os banhos foram selados com pesados pilares de pedra e as estátuas foram deixadas na água.
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"Descoberta excecional"
As escavações no local vão ser retomadas na próxima primavera, enquanto o período de inverno será usado para restaurar e realizar mais estudos sobre as relíquias.
Os artefactos vão ser alojados num edifício do século XVI, recentemente comprado pelo Ministério da Cultura na cidade de San Casciano. O local dos antigos banhos também será transformado num parque arqueológico.
Para o recém-nomeado ministro da cultura italiano, Gennaro Sangiuliano, a "descoberta excecional" confirma que "a Itália é um país cheio de tesouros enormes e únicos".
Por sua vez, Massimo Osanna, diretor geral de museus do Ministério da Cultura italiano, considera que as relíquias foram a descoberta mais significativa do seu tipo desde que foram encontradas duas estátuas de bronze gregas em tamanho real de guerreiros na costa da Calábria, perto de Riace, em 1972. "É certamente uma das descobertas mais significativas de estátuas de bronze na história do antigo Mediterrâneo", rematou.