"Tínhamos de comer como animais". Relatório denuncia abusos contra imigrantes detidos nos EUA
Os testemunhos colhidos por três organizações, incluindo a Human Rights Watch (HRW), em centros de detenção de imigrantes na Flórida, relatam abusos físicos, assédio verbal e tratamento degradante, segundo um relatório que alerta para casos "potencialmente mortais".
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O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, fez campanha com a promessa de deportar milhões de imigrantes em situação irregular. Entre outras medidas, o governo norte-americano designou alguns imigrantes como "inimigos estrangeiros", realizando deportações aos seus países de origem, negando a possibilidade de solicitar asilo à maioria e ampliando o uso de um processo acelerado de expulsão.
Além disso, uma lei aprovada desde que Trump regressou ao poder em janeiro obriga o Serviço de Imigração e Controlo de Alfândegas (ICE) a prender todos os migrantes acusados de uma série de crimes.
O relatório divulgado nesta segunda-feira pelas organizações HRW, Americans for Immigrant Justice e Sanctuary of the South denuncia abusos em três instalações na Flórida: o Krome North Service Processing Center (Krome), o Broward Transitional Center (BTC) e o Federal Detention Center (FDC) em Miami.
No documento, Chauhan e Pedro descreveram uma transferência em abril em que foram detidos com dezenas de homens numa cela durante a madrugada "com os pés algemados e as mãos amarradas atrás das costas". "Foram deixados na sala durante horas", afirma o relatório.
"Eram 17 horas e ninguém tinham almoçado. Alguns nem tomaram pequeno-almoço. Podíamos ver a comida através das grades da nossa cela de detenção em recipientes de poliestireno num carrinho. A comida estava à nossa frente, mas os guardas recusaram-se a dar-nos", disse Chauhan à HRW.
"Às 19 horas, deram-nos o almoço, mas apenas depois de outro guarda protestar em nosso nome. Estávamos algemados, de modo que não conseguíamos alcançar os pratos com as mãos. Tivemos de colocar os pratos nas cadeiras e depois abaixar-nos e comer com a boca, como cães. Tínhamos de comer como animais", lembrou Pedro.
Em geral, os detidos denunciaram "buscas invasivas injustificadas, comportamento humilhante por parte dos oficiais e transferências punitivas", segundo o texto de quase 100 páginas. "Este tratamento não só pode causar um dano psicológico duradouro, mas também viola os padrões internacionais de direitos humanos e as próprias pautas de detenção do ICE", denunciam as organizações.
De acordo com o documento, pelo menos duas mortes recentes podem estar relacionadas com negligência médica. "Estes não são incidentes isolados, mas o resultado de um sistema de detenção fundamentalmente falhado e repleto de abusos graves", considerou Belkis Wille, executiva da HRW, num comunicado.