Um museu em Marselha, no sul de França, convida os visitantes a descobrir a relação da Europa com o estilo de vida naturista, percorrendo as salas sem roupa.
Corpo do artigo
“Não é todos os dias que se pode andar nu por um museu”, admite Julie Guegnolle, de 38 anos, que estava a celebrar o seu aniversário na exposição "Paraísos Naturistas" no Museu das Civilizações da Europa e do Mediterrâneo (Mucem).
Uma vez por mês, os visitantes do Mucem podem explorar a história do naturismo na Europa com apenas uma peça de vestuário - o calçado -, uma precaução não por modéstia, mas simplesmente para "evitar farpas", disse à AFP o diretor da organização naturista francesa FFN, Eric Stefanut.
Guegnolle contou à AFP que queria “fazer algo diferente” no seu aniversário. Ela e o marido, Matthieu - também sem roupa - estavam entre os 80 visitantes em vários estados de nudez que passeavam pelas 600 fotografias, pinturas, esculturas e outras obras, numa terça-feira de agosto.
“Quando chegámos, sentimo-nos um pouco perdidos, mas não é assim tão estranho”, disse Guegnolle.
"Não é bem aceite"
Alguns visitantes sofreram um choque cultural maior do que outros, com um casal inglês a ficar maravilhado com as ideias liberais em relação à nudez.
Kieren Parker-Hall e Xander Parry disseram à AFP que gostaram das fotografias “fantásticas”, incluindo um retrato nu a preto e branco de Christiane Lecocq - uma pioneira do naturismo francês que morreu aos 103 anos.
Descobrir a história do naturismo enquanto estão nus foi uma “oportunidade única na vida” para os dois britânicos, que realçaram que a prática não é muito aceite no seu país de origem.
“Não há muitas coisas naturistas em Inglaterra”, notou Parker-Hall, de 28 anos, acrescentando que a prática "não é realmente aceite". Xander Parry, de 30 anos, também concordou.
Estar nu em Inglaterra é visto como “esquisito", admite. "Devia-se ter um pouco de vergonha de estar nu", disse Parry.
"Bastião do naturismo"
Embora não exista uma classificação oficial, o Mucem descreve França como "o principal destino turístico do mundo" para aqueles que gostam de andar nus ao ar livre.
O movimento naturista surgiu na Suíça e na Alemanha no século XIX, relatou à AFP Bruno Saurez, diretor da associação naturista local e co-anfitrião da exposição.
O primeiro grupo naturista de França surgiu em Provença, em 1930, antes de se espalhar por todo o país.
A cidade portuária de Marselha, há muito considerada um "bastião do naturismo", possui vários centros dedicados ao efeito, em parte pelo clima ameno da região, acrescentou Saurez.
“Estamos mesmo atrás de Espanha no que diz respeito ao número de visitantes de estâncias de férias” dedicadas aos naturistas, acrescentou.
Mas para Christelle Bouyoud, de 53 anos, o naturismo vai mais longe do que o número de turistas ou a liberdade de andar como se veio ao mundo - a decisão de ficar nu pode ser uma força unificadora da sociedade.
“Quando se está nu, é muito complicado enfrentar alguém num campo de batalha”, salienta Bouyard, naturista há uma década.
Tanto para os que estão vestidos como para os que estão nus, a exposição, que conta com empréstimos do Centro Pompidou de Paris, do Louvre e da Biblioteca Nacional Suíça de Berna, está patente até 9 de dezembro.