
Duas últimas centrais a carvão vão encerrar em 2026, gerando mais desemprego
Foto: Sakis Mitrolidis / AFP)
Norte da Grécia enfrenta alto desemprego e vê os mais jovens a fugir com o fecho das centrais a carvão. Menor poluição na região associada a melhorias na saúde de quem fica
O presidente da Câmara Municipal de Ptolemaida, Panagiotis Plakentas, teme o que acontecerá à cidade de e à região circundante quando as últimas centrais elétricas a lenhite, carvão castanho de menor qualidade, do norte da Grécia encerrarem no próximo ano.
Oito em cada dez jovens que saem da região para estudar nunca mais voltam e a localidade corre o risco de "se transformar numa Detroit", a cidade norte-americana devastada pelo colapso da indústria automóvel, disse à AFP.
A região grega da Macedónia Ocidental foi, durante décadas, o centro da indústria de extração de carvão castanho, que alimentava as centrais elétricas gregas. Mas agora, com o encerramento de centrais elétricas atrás de centrais elétricas, "o desemprego está a aumentar e os postos de trabalho que estão a ser cortados não estão a ser substituídos", explica Plakentas, prejudicando ainda mais uma região com a taxa de desemprego mais elevada do país.
As duas últimas centrais de lenhite serão encerradas no próximo ano, sendo a de Ptolemaida convertida para gás natural, numa altura em que a Grécia se afasta do carvão, altamente poluente, numa transição radical para as energias renováveis.
Declínio demográfico
Três homens que, em breve, perderão o emprego bebem café enquanto olham para as chaminés da estação de eletricidade de Agios Dimitrios, que encerrará em maio. "A monocultura da lenhite foi, ao mesmo tempo, uma bênção e uma maldição para a região", diz um deles. "Por um lado, deu trabalho à maioria das pessoas durante décadas, mas a dependência da economia local é tão grande que nos faz sentir que não há amanhã."
A empresa pública de eletricidade PPC prometeu mais de cinco mil milhões de euros de investimento em parques de painéis solares, centros de dados e unidades de armazenamento de energia na região, nos próximos três anos. Mas o responsável local Ilias Tentsoglidis diz não ver sinais desses projetos e condenou aquilo a que chama de "brutal" transição para eliminar a extração de carvão.

Muitos habitantes querem ainda de volta as terras que foram expropriadas pela PPC há anos para a extração do carvão castanho de baixa qualidade, para poderem voltar a cultivá-las."As nossas aldeias estão a esvaziar-se e, na planície mais fértil da região, estamos a semear vidro e betão", disse Tentsoglidis, num ataque aos parques solares.
A taxa de desemprego na região da Macedónia Ocidental é o dobro da média nacional de 8,1%, segundo o instituto de estatística ELSTAT. Foi também a região que registou o maior declínio demográfico na última década, perdendo um décimo da sua população.
Segundo as estimativas dos sindicatos, já se perderam mais de dez mil postos de trabalho e prevê-se que esse número duplique quando o plano de transição ecológica estiver totalmente implementado em 2028. Mas décadas de extração de lenhite também afetaram a saúde das pessoas da região. A melhoria da qualidade do ar resultante do declínio da indústria tem sido associada à diminuição das doenças cardíacas na zona, segundo um estudo publicado este mês na revista "Atmosphere".
"Veneno"

Recentemente, um tribunal condenou a PPC a pagar uma indemnização de cerca de 1,5 milhões de euros por ter contaminado as águas subterrâneas devido à má gestão das cinzas na cidade vizinha de Kozani."Estávamos a beber veneno" sem o saber, disse Tentsoglidis com amargura. "Acordámos uma manhã e disseram-nos que a água já não era potável. Não só não a devíamos beber, como também não lhe devíamos tocar", disse.
Alexis Kokkinidis, um mecânico de 45 anos que trabalha na fábrica de Agios Dimitrios, sente "incerteza e medo" quanto ao futuro. "A única coisa que me mantém aqui é a ligação emocional", admite o pai de dois filhos, cujo contrato termina em maio. "Nasci e cresci aqui, mas não se pode viver de sentimentos".
