Pelo menos três pessoas ficaram feridas, cerca de 140 foram identificadas e 70 foram detidas, esta quinta-feira em França, numa jornada de greves e manifestações organizadas por todos os sindicatos contra as medidas de austeridade, com confrontos e incidentes em várias cidades.
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Os três feridos em Lyon (um polícia, um manifestante e um jornalista), cidade situada a cerca de 278 quilómetros a sudeste de Paris, foram as consequências mais graves dos diversos incidentes ocorridos, incluindo a ocupação pacífica da sede do Ministério da Economia.
No início da manifestação em Paris, ao início da tarde, as autoridades estimaram em 264 mil o número de manifestantes em todo o país, ao passo que a secretária-geral da Confederação Geral do Trabalho (CGT, uma das duas principais centrais sindicais), Sophi Binet, apontava para 400 mil.
Foto: Olivier Chassignole/AFP
Cerca de três horas mais tarde, a CGT anunciou que "mais de um milhão de pessoas" em toda a França participaram nas manifestações hoje convocadas pelos oito sindicatos franceses, numa tentativa para influenciar as escolhas orçamentais do novo primeiro-ministro, Sébastien Lecornu.
Trata-se de um número superior ao da última grande mobilização contra a reforma das pensões em França, em junho de 2023, que reuniu 900 mil pessoas, segundo o mesmo sindicato. As autoridades ainda não forneceram um número nacional.
O protesto, apoiado pela maioria dos sindicatos, tinha sido convocado no final de agosto contra os cortes de 44 mil milhões de euros previstos pelo Governo do anterior primeiro-ministro, François Bayrou, no orçamento de 2026, para reduzir a dívida pública.
O Governo de Bayrou caiu, na sequência do chumbo de uma moção de confiança no Parlamento, a 8 de setembro, mas a jornada de greve manteve-se.
Foto: Olivier Chassignole/AFP
O sucessor de Bayrou, rapidamente nomeado pelo presidente francês, Emmanuel Macron, foi Sébastien Lecornu, uma figura leal ao chefe de Estado que não deu muitas pistas sobre as poupanças que prevê para 2026, a fim de cumprir as regras da União Europeia (UE) em matéria de défice.
Temendo graves distúrbios, o ministro do Interior, Bruno Retailleau, mobilizou para hoje 80.000 polícias e guardas nacionais, o mesmo número que levou para a rua há oito dias, quando se realizou outra manifestação nacional convocada pelo movimento social "Vamos bloquear tudo".
Uma das preocupações das autoridades são os grupos antissistema considerados violentos, como os "Black Blocks". Em Paris, perto da manifestação sindical na Place de la République, foram detetados pelo menos 200 membros, cercados pela polícia de choque.
Em Rennes e Nantes, ambas no noroeste do país, e em Lyon, os protestos degeneraram em alguns incidentes. Em Lyon, pelo menos três pessoas ficaram feridas durante as cargas policiais: um agente da polícia, um manifestante e um jornalista que fazia a cobertura noticiosa das manifestações para a televisão pública.
A greve, com elevada adesão em setores como a educação, teve consequências em vários dos monumentos e museus mais emblemáticos do país: a Torre Eiffel teve de fechar, ao passo que o Museu do Louvre encerrou algumas salas.
Dezenas de sindicalistas entraram também no pátio do Ministério da Economia, no bairro parisiense de Bercy, num gesto de protesto contra a austeridade, até serem expulsos pelas forças de segurança após dez minutos de ação. Os manifestantes transportavam bombas de fumo vermelhas e brandiram algumas bandeiras palestinianas.