Complexo escolar, na capital do enclave, servia de abrigo a famílias de palestinianos deslocados. Forças de Israel dizem ter visado um centro de comando do Hamas.
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A narrativa repetiu-se incontáveis vezes em quase um ano de guerra na Faixa de Gaza, e, uma vez mais, este sábado. Uma escola convertida em abrigo para palestinianos deslocados, civis à deriva no enclave fustigado, situada na Cidade de Gaza, foi alvo de uma vaga de rockets das forças israelitas. Na contagem, sempre provisória, de mortos, o Ministério da Saúde da estreita língua de território fala em 22 vidas perdidas – 13 são crianças, outras seis são mulheres. As Forças de Defesa de Israel (FDI) alegam, como sempre fazem, que o ataque teve como alvo um centro de comando do Hamas.
Os militares disseram ter atingido um centro de comando do grupo islamita integrado no complexo que antes funcionou como escola. Repetindo a acusação que o Hamas utiliza instalações civis para fins militares, o que o grupo continuamente nega.
Imagens publicadas pela agência Reuters mostravam hoje salas reduzidas a escombros, móveis carbonizados, roupas, bens pessoais, sangue, e pessoas que deambulavam na tentativa vã de resgatar os seus pertences. Alguns dos mortos embrulhados em cobertores, levados em carroças; outros, carregados para ambulâncias.
“As mulheres e os seus filhos estavam sentados no parque infantil da escola, as crianças brincavam e, de repente, dois rockets atingiram-nas”, contou uma testemunha, Said Al-Malahi, citada pela mesma agência noticiosa.
“Não aguentei, não vi um único homem ferido, eram todas mulheres e crianças. Deixem os países árabes alegrar-se, deixem-nos alegrar-se e aplaudir [o primeiro-ministro israelita Benjamin] Netanyahu e os Estados Unidos da América”, atirou outra testemunha, Ahmed Azzam, revoltado pelo facto de os vizinhos regionais não estarem a adoptar uma posição mais dura contra Israel.
Médicos mortos em Rafah
Já em Rafah, no extremo Sul do enclave, junto à fronteira com o Egito, morreram, segundo o Ministério da Saúde, quatro médicos, num ataque israelita que atingiu armazéns do ministério. A tutela referiu ainda que as equipas que seguiam em ambulâncias não conseguiram chegar aos mortos nem acudir aos feridos.
Em comunicado, as FDI anunciaram que as suas forças que operam em Rafah desde maio mataram dezenas de combatentes do Hamas nas últimas semanas, tendo desmantelado infraestruturas e poços que conduzem a túneis.
Segundo a atualização mais recente do Ministério da Saúde, são já 41 391 os palestinianos mortos em Gaza desde o início da ofensiva militar de Israel no enclave, a que se juntam 95 760 feridos. Sendo certo que, segundo têm alertado as Nações Unidas, estes números estarão muito aquém da realidade, tendo em conta os milhares de desaparecidos, muitos deles ainda ocultados pelos escombros.
Corpos descartados como lixo
Imagens que têm sido divulgadas por agências internacionais mostram soldados israelitas a lançar corpos de palestinianos mortos do telhado de um edifício na cidade de Qabatiya, no Norte da Cisjordânia ocupada, onde as FDI têm em marcha uma operação militar em grande escala desde o final de agosto.
“Este é um incidente grave que não coincide com os valores das FDI e com as expectativas dos soldados das FDI. O incidente está sob revisão”, afirmaram as forças de Israel em comunicado.