Um tribunal de recurso russo confirmou, esta quarta-feira, a sentença de oito anos e meio de prisão imposta a Ilya Yashin, nome proeminente da oposição russa, pelas suas críticas à ofensiva militar desencadeada pela Rússia na Ucrânia.
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A sentença, proferida em primeira instância em dezembro de 2022, "permanece inalterada", declarou o juiz, segundo relatou um correspondente da agência de notícias France-Presse (AFP) presente na sala do tribunal.
"É uma situação estranha. Não acham? [O presidente da Rússia, Vladimir] Putin é um criminoso de guerra e sou eu a estar atrás das grades, uma pessoa que é contra a guerra que vocês mesmos começaram", afirmou Yashin, em declarações feitas por videoconferência a partir da prisão durante a audiência.
Nas mesmas declarações, Yashin lembrou que o Tribunal Penal Internacional (TPI) emitiu em março passado um mandado de detenção contra o líder do Kremlin, acusando-o de ser responsável por crimes de guerra na Ucrânia.
O TPI acusa Putin de ser alegadamente responsável pela deportação ilegal de crianças ucranianas e pela transferência ilegal de menores de áreas ocupadas da Ucrânia para a Federação Russa.
Putin não só cometeu crimes contra a Ucrânia, mas também contra a Rússia, defende opositor detido
"Putin não fugiu com uma espingarda na mão, mas de qualquer forma, agora tem de fugir da justiça (...).", referiu Yashin.
O opositor russo sublinhou que Putin não só cometeu crimes contra a Ucrânia, mas também contra a Rússia, já que causou o isolamento internacional do país e as suas políticas prejudicaram a economia e a segurança nacional.
"Mandou dezenas de milhares de pessoas para a chacina. Mas o pior é que criou as condições para um aumento radical da violência na nossa sociedade", avaliou Yashin.
"A que se resume a minha culpa? Que, cumprindo o meu dever como político e patriota russo, contei a verdade sobre a guerra. E, em particular, falei sobre os crimes de guerra cometidos pelas tropas de Putin na cidade ucraniana de Bucha", afirmou.
Na prisão encontrei muitos assassinos, violadores e ladrões, que receberam penas menores pelos seus crimes. Insisto, por crimes reais, não por palavras
E reforçou: "Oito anos e meio de prisão por 20 minutos de intervenção na Internet. Na prisão encontrei muitos assassinos, violadores e ladrões, que receberam penas menores pelos seus crimes. Insisto, por crimes reais, não por palavras".
Ilya Yashin, de 39 anos e próximo do líder da oposição russa Alexei Navalny (também a cumprir uma pena de prisão), foi acusado e considerado culpado de espalhar "informações falsas" sobre o exército russo.
O opositor russo foi detido em junho e julgado por ter denunciado, durante uma intervenção ao vivo num canal da plataforma YouTube, "o assassínio de civis" na cidade ucraniana de Bucha, perto de Kiev, onde o exército russo está a ser acusado de crimes de guerra.
Na segunda-feira, um tribunal de Moscovo condenou o ativista da oposição e jornalista russo Vladimir Kara-Murza a 25 anos de prisão por várias acusações, incluindo alta traição e difusão de informações falsas sobre o exército russo.
Kara-Murza, outro proeminente ativista da oposição russa que sobreviveu duas vezes a envenenamentos que foram atribuídos ao Kremlin, já estava preso há um ano. Uma das suas advogadas anunciou que Kara-Murza vai recorrer da sentença, denunciando ainda "graves violações de procedimento" durante o julgamento.
Nos últimos meses, várias pessoas foram condenadas a penas de prisão na Rússia, depois de serem condenadas por divulgar "informações falsas" ou por "desacreditar" as forças armadas russas.
A ofensiva militar russa no território ucraniano, lançada a 24 de fevereiro do ano passado, mergulhou a Europa naquela que é considerada a crise de segurança mais grave desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).