O Tribunal Internacional de Justiça ordenou, esta sexta-feira, a Israel que cesse as operações militares em Rafah, uma decisão histórica que deverá aumentar a crescente pressão internacional sobre Israel, mais de sete meses após o início da escalada da guerra em Gaza.
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Israel deve "suspender imediatamente a ofensiva militar, bem como qualquer outra ação" em Rafah "que possa infligir ao grupo palestiniano em Gaza condições de vida suscetíveis de provocar a sua destruição física total ou parcial", indicou o Tribunal Internacional de Justiça (TIJ).
O tribunal com sede em Haia citou as obrigações que incumbem a Israel "por força da Convenção sobre a Prevenção e Punição do Crime de Genocídio, e tendo em conta o agravamento das condições de vida dos civis" em Rafah. Declarou também que Israel deve manter a passagem de Rafah aberta para permitir a entrada de ajuda humanitária em Gaza "sem restrições".
Israel também deve "tomar medidas eficazes para garantir o acesso sem entraves à Faixa de Gaza de qualquer comissão de inquérito, missão de apuramento dos factos ou outro órgão de investigação" mandatado pela ONU "para investigar alegações de genocídio". E tem ainda de apresentar um relatório, no prazo de 90 dias, sobre as medidas decididas pelo TIJ.
A decisão foi aprovada por 13 votos a favor e dois contra, anunciou o presidente do TIJ, o libanês Nawaf Salam. Decorre de uma petição da África do Sul apresentada ao TIJ em dezembro, dois meses depois do início da guerra entre Israel e o grupo extremista palestiniano Hamas.
Em janeiro, o TIJ, tinha ordenado a Israel que fizesse tudo o que estivesse ao seu alcance para impedir qualquer ato de genocídio e que permitisse a entrada de ajuda humanitária na Faixa de Gaza. Face ao agravamento da situação em Rafah, a África do Sul requereu novas medidas ao TIJ, que foram divulgadas hoje na sede do tribunal, nos Países Baixos.
Ao contrário do Tribunal Penal Internacional (TPI), também com sede em Haia, que julga indivíduos por crimes de guerra e crimes contra a humanidade, o TIJ tenta solucionar disputas legais submetidas por Estados.
O TIJ é o principal órgão judiciário das Nações Unidas e começou a funcionar em 1946, sendo composto por 15 juízes.
As decisões do TIJ são juridicamente vinculativas, mas o tribunal não tem meios para as fazer cumprir.
Israel declarou ao TIJ que um cessar-fogo imposto permitiria aos combatentes do Hamas reagruparem-se e impossibilitaria a libertação dos reféns ainda nas mãos do movimento islamista palestiniano.
O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, anunciou que iria convocar uma reunião dos ministros do seu governo para discutir a decisão do TIJ, segundo a agência francesa AFP.
Comissão Europeia diz que decisão obriga Israel a parar invasão
A Comissão Europeia disse hoje que as decisões do Tribunal Internacional de Justiça sobre a suspensão da incursão militar israelita em Rafah "são vinculativas" e "todas as partes têm de obedecer".
"Tomo nota da decisão do TIJ de ordenar a suspensão das operações militares em Rafah e a abertura de um corredor para acesso a apoio humanitário e serviços básicos", escreveu o comissário para a Gestão de Crises, Janez Lenarcic, na rede social X (antigo Twitter). "As decisões do TIJ são vinculativas e todas as partes têm de obedecer. Espero uma implementação total e imediata", completou.
De acordo com a AFP, que citou fontes de Bruxelas sob a condição de anonimato, a União Europeia estará disponível para controlar o posto de passagem de ajuda humanitária, que o TIJ ordenou que fosse restabelecido.