Estados Unidos sugerem "plano b" para desbloquear cereais. Rússia culpa Ocidente pela insegurança alimentar. "Corte drástico" através do gasoduto Nord Stream.
Corpo do artigo
Algures no Cairo, onde iniciou uma ronda pelos países africanos que mais se queixam da insegurança alimentar provocada pela guerra na Ucrânia, o chefe da diplomacia russa, Sergei Lavrov, garantiu que já foi levantado o bloqueio aos portos ucranianos do Mar Negro e insistiu que a culpa da crise dos cereais é da Ucrânia e do Ocidente. Kiev diz que não é por causa dos recentes ataques a Odessa que o trigo será retido e os Estados Unidos entram em cena e até anunciam um "plano b" para a redistribuição, terrestre, fluvial e, sobretudo, ferroviária. Problema: a bitola dos caminhos-de-ferro não acode à emergência planetária.
Samatha Power, administradora da Agência Internacional para o Desenvolvimento dos Estados Unidos (USAID), disse à cadeia de televisão CNN, que "o plano B" para desalfandegar 25 milhões de toneladas de cereais armazenadas nos portos ucranianos envolve "o ajustamento dos sistemas ferroviários para que possam ser compatíveis com os da Europa e assim permitir exportações mais rápidas".
"Estamos a elaborar um plano de contingência porque não podemos confiar de nenhuma forma naquilo que Vladimir Putin diz", acrescentou.
Estas alternativas de escoamento parecem, contudo, pouco viáveis. Nas melhores estimativas, escoariam um milhão de toneladas por mês, ou seja, seriam necessários 25 meses para transportar o produto, sem contar com o que se acumulará na safra em curso.
Por mar, mantêm-se os obstáculos: a desminagem, que será demorada, e a urgência da situação, que requer empenho político e meios expeditos. À carga média de 40 mil toneladas, serão necessários 500 navios, o que também se afigura de difícil execução imediata, tantos mais que a marinha mercante tem acrescidas dificuldades para obter seguros num cenário de conflito.
Torneira fechada
Na guerra paralela à dos blindados e dos mísseis, a travada no plano económico e comercial, destaque para mais uma investida de Moscovo. O grupo Gazprom anuncia que vai reduzir drasticamente, a partir de quarta-feira, o fornecimento de gás à Europa através do gasoduto Nord Stream.
A reparação de uma turbina apanha com as culpas. Noutras ocasiões, a Rússia já tinha reduzido por duas vezes o volume das entregas, em junho, alegando que o gasoduto não pode funcionar normalmente sem a turbina que está em manutenção no Canadá e que não lhe foi entregue por causa das sanções. A Alemanha e o Canadá concordaram, entretanto, em recuperar o equipamento, mas o mecanismo ainda não foi entregue.
Nos campos da batalha, entretanto, as tropas ucranianas perseguem o que consideram um contra-ataque com vista à retoma da região de Kerson (sul), uma das primeira cidade a cair nas mãos dos russos.
As forças ucranianas usam mísseis Hilars para atacar posições russas e para interromper as linhas de abastecimento na zona ocupada. Estas armas têm alcance de 80 quilómetros e foram fornecidas pelos Estados Unidos.
BEI aprova financiamento de 1590 milhões
O Banco Europeu de Investimento aprovou um financiamento de 1 590 milhões de euros à Ucrânia, destinado a reparar infraestruturas essenciais mais danificadas e dar resposta às necessidades da população.
Putin oferece ajuda ao Sri Lanka
Em troca do socorro económico e energético, o presidente russo, Vladimir Putin, pede ao homólogo do antigo Ceilão, Ranil Wickremesinghe, "cooperação bilateral construtiva em várias esferas".
Opositor detido no regresso a Moscovo
Leonid Gozmand, de 72 anos, crítico do Kremlin e líder da União das Forças de Direita, é acusado de não ter notificado as autoridades, como exige a lei, de que tem cidadania estrangeira, no caso, israelita.