Quatro dias de intensos combates provocaram mais de 500 mortes no Sul da Síria, deixando hospital e morgue lotados. Nas ruas, esperança contrasta com devastação.
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Na sequência do segundo acordo de cessar-fogo, anunciado por Damasco na quarta-feira, as tropas sírias retiraram-se da cidade de maioria drusa de Sweida, no Sul do país. Às comemorações de combatentes do grupo etnorreligioso juntou-se o horror após dias de combate, que deixaram mais de 500 mortos.
Apesar de dúvidas sobre da entrada em vigor da trégua, com tiros registados após o anúncio do Governo sírio, os militares de Damasco abandonaram a província ao Sul do país. Fações armadas drusas e civis comemoraram em Sweida e nos Montes Golã ocupados por Israel, sendo possível ver bandeiras drusas com a estrela símbolo deste grupo religioso derivado, mas independente, do Islão xiita.
A violência provocou pelo menos 594 mortes, incluindo 154 civis de Sweida e três membros de tribos beduínas, indicou o Observatório Sírio dos Direitos Humanos. Os confrontos começaram no domingo, após o rapto de um vendedor de legumes druso por tribos beduínas – que são agricultores sunitas nómadas. Tropas do Governo islamita sírio intervieram e entraram na cidade de maioria drusa, mas em vez de apaziguarem os ânimos, perpetraram ataques à população local. A promessa de proteção dos drusos por Israel resultou em ataques israelitas a alvos militares em Sweida, além de bombardeamentos na capital síria.
Cadáveres nas ruas
“O que vi da cidade parecia ter acabado de sair de uma inundação ou de um desastre natural”, disse à agência France-Presse (AFP) Hanadi Obeid. A médica de 39 anos viu três corpos que jaziam na rua, “um deles era uma idosa”, além de “carros queimados por todos os lados, outros de cabeça para baixo, e um tanque carbonizado”. Relato similar ao de um fotojornalista da AFP, que contou 15 cadáveres no centro.
O principal hospital, que chegou a ficar fora de serviço na quarta-feira após forças sírias entrarem nas instalações para enfrentar combatentes drusos, está lotado de corpos na morgue e com corredores cheios de pacientes. “As máquinas de diálise estão fora de serviço e os pacientes não estão a receber tratamento. Há uma catástrofe humanitária em Sweida”, lamentou o editor-chefe do órgão de Comunicação Social local Suwayda 24, Rayan Maarouf, em declarações à AFP.
Al-Sharaa assegura proteção
“Interessa-nos responsabilizar aqueles que transgrediram e abusaram do nosso povo druso, uma vez que estão sob a proteção e responsabilidade do Estado”, declarou esta quinta-feira o presidente da Síria. Ahmed al-Sharaa garantiu que a defesa dos drusos é uma “prioridade” e acusou ainda Israel de tentar “desmantelar a unidade do povo” sírio.
A promessa está, contudo, a gerar desconfiança. Desde que chegaram ao poder, os islamitas do Hayat Tahrir al-Sham, derivado do Al-Qaeda, atacaram minorias. Em março, mais de 1700 civis alauitas – do mesmo grupo etnorreligioso do ex-presidente Bashar al-Assad – foram massacrados na região costeira síria. Em abril e maio, forças do Governo combateram drusos, deixando mais de uma centena de mortos.