Trump admite estender financiamento do Estado sem negociar com democratas no Congresso
O presidente norte-americano, Donald Trump, admitiu esta sexta-feira uma solução legislativa para estender o financiamento da administração pública, em negociação no Congresso, ignorando os democratas, que exigem contrapartidas para aprovação do mesmo.
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Com a liderança dos democratas no Congresso a admitir que um acordo sobre o financiamento não seja alcançado até ao prazo de 30 de setembro, implicando uma paralisação das agências federais e falta de verbas para pagar salários a milhões de funcionários públicos e membros das Forças Armadas, Trump disse hoje que "nem se daria ao trabalho" de negociar com os democratas.
"Se lhes dessem todos os sonhos, [os democratas] não votariam neles", disse Trump.
Em alternativa, sugeriu, os republicanos provavelmente elaborarão uma resolução contínua para manter o financiamento ao governo federal.
"Vamos conseguir, porque os republicanos estão a unir-se", afiançou.
Segundo a AP, os republicanos, que têm maioria nas duas câmaras do Congresso, estão a considerar uma medida paliativa de gastos a curto prazo para evitar uma paralisação.
O líder da maioria republicana no Senado, John Thune, disse na quinta-feira, em entrevista ao Punchbowl News, acreditar que os democratas consideram "politicamente vantajosa" a paralisação do estado.
"Mas não têm uma boa razão para o fazer (...) E não pretendo dar-lhes um bom motivo para o fazerem", disse Thune na entrevista.
No início do ano, o líder democrata no Senado, Chuck Schumer, votou com os republicanos para manter o financiamento ao governo, e foi por isso alvo de críticas no seu partido, mas agora afirma-se disposto a arriscar uma paralisação se as suas exigências não forem atendidas.
"As coisas mudaram" desde a votação de março, disse Schumer em entrevista à Associated Press na quinta-feira.
A principal mudança desde então, salientou Schumer, foi que os republicanos aprovaram o pacote legislativo de Trump sobre isenções fiscais e cortes de despesas - que o Presidente batizou de "grande e bela lei" - contemplando poupanças no Medicaid e noutros programas públicos de assistência de saúde, que implicam que milhões de pessoas ficarão sem acesso aos mesmos.
Na anterior votação, os democratas dividiram-se e o líder democrata na Câmara de Representantes, Hakeem Jeffries, votou contra o financiamento da administração pública.
Schumer afirma estar agora unido com Jeffries, na oposição a qualquer legislação que não inclua disposições essenciais sobre cuidados de saúde e o compromisso de não as revogar e acredita que os republicanos e Donald Trump serão responsabilizados se não negociarem um acordo bipartidário.
Uma paralisação, disse Schumer, não iria necessariamente piorar um ambiente em que Trump já está a desafiar a autoridade do Congresso.
"Vai piorar com ou sem ela, porque Trump é um fora-da-lei", disse Schumer à AP.
As tensões partidárias têm vindo a crescer no Senado, onde as negociações entre os dois partidos sobre o processo de confirmação de nomeações de Trump para cargos públicos têm vindo a arrastar-se e os republicanos estão agora a alterar as regras da câmara para avançar.
O líder republicano no Senado quer que os democratas apresentem uma proposta específica sobre cuidados de saúde, incluindo uma extensão dos créditos fiscais para utentes do sistema público de assistência médica, algo a que alguns republicanos estão abertos, e que expiram no final do ano.
Mas John Thune prefere uma medida paralela provisória sobre a extensão, enquanto o Congresso finaliza a sua legislação orçamental, o que o líder dos democratas diz ser inaceitável para a maioria da sua bancada, na ausência de negociação.
"Penso que a esmagadora maioria da nossa bancada, com algumas exceções, e o mesmo com a Câmara, votaria contra", disse.
Mais improvável ainda, salienta a AP, é a aceitação da exigência dos democratas de que os republicanos simplesmente revertam os cortes do programa de assistência médica Medicaid (para utentes de baixos rendimentos) promulgados no pacote legislativo de Trump.