O candidato republicano às eleições dos Estados Unidos acusa a vice-presidente de se ter tornado negra "subitamente" com o intuito de conquistar votos. Resposta da democrata: "O povo americano merece um líder que diga a verdade".
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Donald Trump tem uma dúvida: afinal, Kamala Harris é negra ou indiana? A questão tem relevância zero, mas para o republicano que quer voltar à Casa Branca tudo serve para denegrir a imagem da rival democrata, como já sabemos. Ainda por cima, o magnata nova-iorquino lançou a polémica durante a convenção da Associação Nacional de Jornalistas Negros, em Chicago.
A única certeza que Trump parece ter a este propósito é esta: “Kamala tornou-se negra subitamente” e fê-lo, segundo disse, para conquistar os votos dos afro-americanos. Dantes, prosseguiu o candidato republicano, a atual vice-presidente dos EUA “apenas promovia a sua herança indiana”.
Nascida em Oakland, Califórnia, Kamala Devi Harris é filha de mãe indiana e de pai jamaicano, ainda vivo.
Mais: "Eu não sabia que ela era negra até há alguns anos. Ela tornou-se negra e quer ser conhecida como negra. É uma coisa ou outra? Eu respeito ambas, mas ela obviamente não respeita isso". A entrevista, que se tornou tensa, foi moderada por três jornalistas negras: Rachel Scott, da ABC, Kadia Goba, da Semafor, e Harris Faulkner, da Fox News. Duas delas não se livraram de ouvir comentários desagradáveis, só pelo facto de insistirem com perguntas a que Trump não queria responder. Foram, disse, “muito rudes”.
Kamala, a quem só falta a nomeação do Partido Democrata para se tornar oficialmente candidata à sucessão de Joe Biden, reagiu com elegância às declarações de Trump, dizendo que fez “o espetáculo do costume”, que é o da “divisão e desrespeito”.
Sem referir o nome do opositor, deixou à plateia que a ouvia, na convenção da irmandade negra Sigma Gamma Rho, o que pensa sobre o perfil de quem exerce o cargo de presidente: “O povo americano merece um líder que diga a verdade, um líder que não responda com hostilidade e raiva quando confrontado com os factos. Merecemos um líder que entenda que as nossas diferenças não nos dividem – elas são uma fonte essencial da nossa força”.
O jornal “The New York Times” fez uma verificação de factos e encontrou uma série de falsidades e insinuações entre as declarações de Donald Trump.
Por exemplo, acerca do exame à Ordem dos Advogados. Primeiro disse que Kamala não passou no exame, depois disse que ela achava que não ia passar e, por fim, lá disse que “talvez tenha passado”. Na verdade, Kamala falhou na primeira tentativa, mas foi admitida na Ordem dois anos depois. Talvez seja de recordar que, depois de anos a fio como advogada, Kamala foi procuradora-geral do estado da Califórnia.
“Repulsivas” e “insultuosas” foi como Karine Jean-Pierre, assessora de imprensa da Casa Branca, classificou as declarações do candidato republicano.