Ideias sobre políticas para a Organização do Tratado Atlântico Norte e para o Médio Oriente são as principais incertezas quando ao futuro inquilino da Casa Branca
Corpo do artigo
As campainhas de alarme pelas "incertezas" em política externo-militar de Donald Trump retinem de inquietação entre os aliados dos Estados Unidos na Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO), mas não tardarão a silenciar-se. A angústia resulta de terem presente a ameaça, na campanha eleitoral, de desvincular os EUA da obrigação de assistência a um país aliado que sofra um eventual ataque, se este não assumir as "devidas" despesas militares.
Recorde-se: a NATO fixou o objetivo de cada membro destinar 2% do Produto Interno Bruto a despesas militares, mas os aliados europeus gastam 1,45% (só Reino Unido, Grécia, Polónia e Estónia superam os 2%), enquanto os EUA empenham 3,59%, que Trump quer reduzir.
Mostrando pressa em reunir-se com o próximo presidente da potência todo-poderosa da NATO, o secretário-geral da organização, Jons Stoltenberg, fez notar que uma "aliança forte" é importante "tanto para a Europa como para os EUA" e que este foi o único país a beneficiar da obrigação que Trump quererá romper: "A única vez em que foi invocado o artigo 5.º (defesa coletiva) foi após um ataque aos Estados Unidos, o 11 de Setembro em Nova Iorque. Depois, soldados europeus participaram na missão no Afeganistão, que foi a resposta direta a esse ataque".
A necessidade de clarificação do pensamento de Trump sobre a NATO - e outras áreas multilaterais, como as alterações climáticas e as relações comerciais com a Europa - levou o presidente da Comissão Europeia a instá-lo.
"Gostaríamos de saber quais são as suas intenções em relação à Aliança", disse Jean-Claude Juncker, indicando que "devem clarificar-se nos próximos meses". Ou seja, até à posse (20 de janeiro) como presidente e, portanto, comandante supremo das forças armadas dos EUA, como se sabe preponderantes na NATO.
Até lá, "moderará o discurso", esperam fontes na organização. Madeleine Albright, antiga secretária de Estado do governo de Bill Clinton, citada pelo jornal "The Guardian", crê: "É minha esperança que, uma vez que esteja mais bem informado, terá uma visão diferente".
Talvez até lá esclareça a sua política externa, cuja incerteza é assinalável, por exemplo, em relação ao Médio Oriente, mas que a Rússia parece ser a única a compreender. "É fenomenal o quanto (Vladimir Putin e Trump) estão tão próximos um do outro na abordagem conceptual em política externa", comentou o porta-voz do Kremlin, Dimitri Peskov.
O que farão os EUA no dossiê Síria, em relação ao qual Trump fez declarações ambíguas ("Não gosto de Assad, mas Assad faz a guerra ao "Estado Islâmico"", por exemplo)? E como serão as relações com Israel, com cujo primeiro-ministro Netanyahou tem jurada "grande amizade" mútua, apesar de ter tido o apoio da extrema-direita anti-semita?
Já parece mais claro que, apesar da alegada simpatia por governos "autoritários", as relações entre Washington e Teerão não serão fáceis, tendo em conta a dura adjetivação de Trump do acordo sobre o programa nuclear do Irão - "um desastre", ou "o mais estúpido da História".
"O mais importante é que o futuro presidente dos EUA respeite os acordos, os compromissos assumidos não ao nível bilateral, mas multilateral", avisou o ministro iraniano dos Negócios Estrangeiros, Mohamade Zarif, como quem sinaliza limites diplomáticos intransponíveis.