Trump quer criar "centros de refugiados" em Pretória para receber cidadãos brancos sul-africanos

O presidente norte-americano, Donald Trump
Foto: Brendam Smialowski / AFP
O presidente norte-americano, Donald Trump, quer criar "centros de refugiados" em Pretória, na África do Sul, para posteriormente receber cidadãos brancos sul-africanos como refugiados, noticiou o "The New York Times".
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O programa "Missão África do Sul" prevê a criação de centros de refugiados em Pretória - berço de Elon Musk, que está à frente do Departamento de Eficiência Governamental da governação Trump - e dar aos cidadãos "afrikaner" [descendentes de colonos europeus] da África do Sul o estatuto de refugiados, informou o jornal norte-americano, com base em documentos a que teve acesso.
Esta política vai contra as atuais pretensões migratórias dos Estados Unidos, em que foi proibida a entrada à "maioria dos refugiados", nomeadamente "20 mil pessoas que já estavam prontas para viajar" para o país "antes da tomada de posse do presidente Trump", vindas por exemplo do Afeganistão, da República Democrática do Congo e da Síria, salienta-se no jornal norte-americano.
Um tribunal de recurso decidiu, na semana passada, que a administração Trump deve admitir as milhares de pessoas a quem foi concedido o estatuto de refugiado antes da entrada em funções do novo presidente e recusou-se também a impedi-lo de suspender a admissão de novos refugiados.
Segundo a investigação jornalística, numa primeira fase do programa, os EUA enviaram várias equipas para a África do Sul para converter escritórios em Pretória em centros de refugiados. No local, já foram estudados mais de 8200 pedidos para se integrarem estes cidadãos nos EUA e foram identificados 100 "afrikaner" que poderão obter o estatuto de refugiados.
"Até meados de abril, os funcionários norte-americanos no terreno irão propor soluções a longo prazo, para garantir a implementação bem sucedida da visão do presidente [Trump] para a reinstalação digna dos candidatos "afrikaner" elegíveis", de acordo com um memorando enviado da embaixada em Pretória para o Departamento de Estado em Washington este mês, citado pelo The New York Times.
Esta ajuda à minoria branca sul-africana coloca os EUA num debate acesso, uma vez que alguns membros "afrikaner" iniciaram uma campanha a sugerir serem as verdadeiras vítimas no período "pós-"apartheid"" e com o Departamento de Estado norte-americano a defender que estes têm sido alvo de uma "discriminação racial injusta", indicou.
Esta tensão entre as duas nações começou particularmente em 2 de fevereiro quando Trump afirmou que a África do Sul estava a confiscar terras e "a tratar muito mal certas classes de pessoas", referindo-se à Lei da Expropriação, promulgada em 23 de janeiro, que facilita a expropriação de terras do interesse público por parte dos organismos estatais, desde que seja paga uma indemnização justa, substituindo assim a legislação que estava em vigor desde 1975.
Também Musk, que não tem ascendência "afrikaner", destacou essa lei em publicações nas redes sociais e apresentou-a como uma ameaça para a minoria branca sul-africana.
Em 2017, o periódico City Press noticiou que os agricultores brancos detinham quase três quartos das terras agrícolas da África do Sul, apesar de 23 anos de esforços do Governo para redistribuir terras à maioria negra.
Por sua vez, em 7 de fevereiro, num decreto presidencial, Trump decidiu cortar a ajuda externa à nação africana e declarou que os EUA iriam "encorajar" a reinstalação de refugiados "afrikaner".
Ernst Roets, antigo diretor-executivo da Fundação Afrikaner, disse ao The New York Times que a criação deste programa de refugiados provocou um debate, porque muitos "afrikaner" não querem sair do país, mas sim uma "autogovernação" apoiada pelos EUA.
A tensão entre as duas nações tem vindo a aumentar e em 15 de março a África do Sul lamentou que o seu embaixador nos EUA, Ebrahim Rasool, tenha sido declarado "persona non grata" pelo secretário de Estado, Marco Rubio.
