Trump reverte metas de consumo de combustível em carros e deixa ambientalistas em alerta

Chefe de Estado norte-americano retirou metas para aprimorar consumo de combustíveis por novos veículos.
Foto: Mario Tama / Getty Images / AFP
O presidente norte-americano, Donald Trump, anunciou na quarta-feira uma revisão das normas de economia de combustível implementadas no Governo de Joe Biden, argumentando que isso vai reduzir os preços dos carros nos Estados Unidos. Os críticos alertaram, todavia, que a medida vai agravar as alterações climáticas e fazer com que os condutores paguem mais pelos combustíveis.
Trump esteve acompanhado no Salão Oval pelos CEO da Ford e da Stellantis e por um alto executivo da General Motors, demonstrando o apoio das "Big Three" de Detroit. "O meu Governo está a tomar medidas históricas para reduzir os custos para os consumidores americanos, proteger os empregos na indústria automóvel americana e tornar a compra de um automóvel muito mais acessível", frisou o presidente dos EUA.
"Hoje é uma vitória para o bom senso e a acessibilidade", acrescentou o CEO da Ford, Jim Farley.
Os ambientalistas reagiram prontamente, afirmando que a revogação se destaca mesmo entre as muitas ações antiambientais de Trump devido ao impacto desproporcional nos Estados Unidos, um país dependente dos automóveis. "Trump está a destruir a maior iniciativa alguma vez tomada por uma nação no combate ao uso de petróleo e à poluição que causa o aquecimento global", disse Dan Becker, ativista do Centro para a Diversidade Biológica, à agência France-Presse (AFP).

Trump anunciou medida na Sala Oval com representantes do setor automóvel e aliados republicanos (Foto: Will Oliver / EPA / Pool)
Em causa estão as normas de Economia de Combustível Média Corporativa (CAFE, na sigla em inglês), criadas em 1975 em resposta ao embargo petrolífero árabe, que exigem que os veículos atinjam a "máxima quilometragem possível" por galão. De acordo com a regra proposta, o Governo reverteria os aumentos de eficiência planeados e anteriores, visando uma média de 34,5 milhas por galão para toda a frota até ao ano-modelo de 2031 - "não melhor do que o que os carros americanos estão a fazer hoje", disse Becker, referindo que os números do CAFE sobrestimam a quilometragem real em cerca de 25%.
O Departamento de Transportes de Trump argumenta que as autoridades de Biden incluíram indevidamente veículos elétricos e híbridos, afirmando que as normas seriam inatingíveis para os carros movidos a gasolina e, na prática, forçariam uma mudança no mercado.
Gina McCarthy, antiga funcionária de alto nível dos Governos de Biden e Barack Obama, defendeu que a medida não só agravaria as alterações climáticas, como também prejudicaria a indústria automóvel, atrasando a sua transição para os veículos elétricos. "O resto do Mundo continuará a inovar e a criar carros mais limpos que as pessoas querem comprar e conduzir, enquanto nós somos obrigados a ficar com os nossos carros velhos, a pagar mais pela gasolina e a emitir mais poluentes pelos escapes", declarou.
Luta contra veículos elétricos
Trump tem-se manifestado veementemente contra aquilo a que chama um "mandato" para veículos elétricos - uma posição que o coloca em desacordo com o aliado Elon Musk, CEO da Tesla, cuja empresa ainda domina o mercado de veículos elétricos nos EUA.
Os republicanos no Congresso revogaram os créditos fiscais para a energia limpa num importante projeto de lei fiscal e de despesas, e atacaram a capacidade da Califórnia de definir os seus próprios limites de emissões de veículos. Ao longo de 2025, a GM e outros fabricantes de automóveis americanos reduziram ou adiaram a capacidade de novas fábricas de veículos elétricos.
Mas ainda não é claro se a economia resultante da redução dos investimentos em veículos elétricos chegará aos consumidores. Embora a mudança relativamente aos elétricos permita as fabricantes de automóveis adiarem ou desistirem de investir milhares de milhões de dólares na área, alguns recursos estão a ser direcionados para novas iniciativas para aumentar a capacidade de produção de automóveis nos EUA, em função das tarifas impostas por Trump.
"Atender aos elevados padrões de economia de combustível tem sido um desafio para a indústria automóvel e aumentou o custo dos veículos", disse à AFP Charlie Chesbrough, analista da Cox Automotive. "No entanto, os consumidores gostam de veículos com baixo consumo de combustível. Este ano, as vendas de híbridos tradicionais aumentaram dois dígitos em relação ao ano passado, enquanto as de veículos a gasolina permaneceram praticamente estáveis", acrescentou.
"Como a maioria dos consumidores não tem outras alternativas de transporte disponíveis, as pessoas temem os elevados preços da gasolina. E um bom consumo de combustível é uma forma de mitigar esse risco", completou.
