Donald Trump suspendeu as chamadas "tarifas recíprocas" para diversos países, com uma notável exceção: a China. Os produtos chineses importados pelos EUA estão a ser tributados em 145%. Como fica o cenário da guerra comercial, incluindo para a Europa?
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Que taxas foram suspensas?
As "tarifas recíprocas", que entraram em vigor esta quarta-feira, foram suspensas no mesmo dia para dezenas de países – pelo menos por 90 dias. A tarifa-base universal de 10%, implementada a 5 de abril, permanece. Ou seja, enquanto bens de alguns países continuarão com taxas alfandegárias iguais, como é o caso do Brasil, Reino Unido, Austrália e Turquia (que já sofriam tributação de 10%), outros vão ter as taxas para os seus produtos reduzidas, como a União Europeia (de 20% para 10%), o Camboja (de 49% para 10%) e Vietname (46% para 10%).
Sob a justificação de que os Estados Unidos necessitavam equilibrar a balança comercial, tais taxas alfandegárias, agora suspensas, originaram-se de contas erradas, uma vez que Washington considera que o IVA dos Estados europeus, assim como a manipulação cambial, um forma de "tarifa" que visa prejudicar os bens norte-americanos.
Quais tributações permanecem?
Além da tarifa-base de 10%, outros setores e produtos de países continuam a sofrer com a tributação norte-americana. Os importadores dos EUA estão a pagar 25% sobre os bens canadianos e mexicanos não englobados pelo Acordo Estados Unidos-México-Canadá, conhecido como USMCA. Todos as importações de aço e alumínio permanecem afetadas por uma taxa de 25%, assim como os automóveis.
A única "tarifa recíproca" que permanece em vigor, por ora, é a da China.
Como está a guerra comercial entre EUA e China?
A guerra comercial lançada por Donald Trump contra Pequim continua a escalar. O presidente norte-americano anunciou no dia 9 de abril que uma tributação de 145% sobre os produtos chineses seria instaurada imediatamente. O aumento na percentagem das taxas começou no início do segundo mandato do líder da Casa Branca, mas cresceu a pique nos últimos dias em resposta à retaliação chinesa – 10% em fevereiro + 10% em março + 34% anunciados a 2 de abril + 50% lançados no dia 7 de abril + 41% a 9 de abril.
A China, que não respondeu às tarifas de 20% iniciais, anunciara reciprocidade com os 34% e os 50%, totalizando 84% de tributação sobre os bens norte-americanos importados ao gigante asiático. Pequim não divulgou ainda qual resposta dará ao aumento mais recente imposto por Trump, mas a porta-voz do Ministério do Comércio chinês afirmou esperar que ambos os países cheguem a um meio termo, mas voltando a salientar que a China "lutará até o fim".
Quais as implicações para a Europa?
A crise nos mercados, que recuperaram parte das perdas dos últimos dias, provocaram mudanças nas previsões económicas de diversos países, com a Alemanha a ficar estagnada e a Itália a cortar pela metade a previsão do crescimento do PIB deste ano - de 1,2% para 0,6%.
Logo após o Conselho de Ministros desta quinta-feira, o primeiro-ministro Luís Montenegro anunciou um pacote de apoio "com um volume superior a dez mil milhões de euros" às empresas exportadoras portuguesas. O chefe de Governo defendeu ainda a diversificação dos parceiros comerciais, mencionando o acordo entre a União Europeia e o Mercosul.
A presidente da Comissão Europeia considerou o recuo de Trump um "passo importante para a estabilização da economia global". "A União Europeia continua empenhada em negociações construtivas com os Estados Unidos", acrescentou Ursula von der Leyen, que volta a repetir a oferta de Bruxelas para a retirada mútua das tarifas sobre certos bens industriais, como automóveis.
O bloco comunitário adiou em 90 dias as contramedidas aprovadas, na quarta-feira, que serviriam de retaliação às taxas norte-americanas de 25% sobre o aço e o alumínio (ainda em vigor). Um total de 1680 bens norte-americanos seriam tributados em 25%, com um impacto em cerca de 20 mil milhões de euros em produtos. A resposta estava prevista de ser implementada em fases em maio e dezembro.