O túmulo do responsável pela abolição da pena de morte em França, Robert Badinter, que foi esta quinta-feira transladado para o Panteão de Paris, foi profanado no cemitério parisiense de Bagneux, anunciou a câmara municipal local.
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Segundo a autarquia, o túmulo do antigo ministro da Justiça francês foi pintado com frases "que insultam os seus compromissos contra a pena de morte e pela despenalização da homossexualidade".
As palavras "Eterna é a vossa gratidão, assassinos, pedófilos, violadores, a República santifica-a" foram grafitadas a azul na lápide do antigo ministro e advogado, que morreu em fevereiro de 2024, acrescentou uma fonte da polícia citada pela agência de notícias francesa AFP.
A profanação do túmulo do autor da lei de abolição da pena de morte em França - promulgada a 9 de outubro de 1981 - aconteceu poucas horas antes da sua entrada no Panteão, cerimónia solene realizada hoje de manhã e presidida pelo chefe de Estado, Emmanuel Macron.
"O túmulo de Robert Badinter foi profanado. Vergonha para aqueles que tentaram manchar a sua memória", criticou o Presidente francês numa mensagem publicada nas redes sociais, na qual defendeu que o Panteão é "o lar eterno da consciência e da justiça" e que "a República é sempre mais forte do que o ódio".
A autarca comunista de Bagneux, localidade situada perto de Paris, Marie-Hélène Amiable, também condenou aquilo que descreveu como "um ato cobarde".
As inscrições encontradas pela polícia "são indignas deste antigo ministro e senador, portador dos avanços históricos que levaram à abolição da pena de morte em França em 1981 e à despenalização da homossexualidade em 1982", denunciou a autarca.
"Pode-se profanar um túmulo, mas não uma consciência", reagiu, por sua vez, a ministra cessante do Urbanismo e deputada eleita por Montrouge, cidade vizinha de Bagneux, Juliette Méadel.
"Robert Badinter é a consciência e o rosto da República, e ninguém nos tirará isso", disse.
"O advogado de assassinos"
Robert Badinter morreu a 9 de fevereiro do ano passado, aos 95 anos.
Entre 1981 e 1986, foi ministro da Justiça do presidente socialista François Mitterrand e defendeu a lei que acabou com a pena de morte numa França então maioritariamente a favor da pena capital.
Filho de uma família judaica emigrada da atual Moldova, Badinter nasceu em Paris a 30 de março de 1928 e, em 1943, com 14 anos, assistiu à detenção do pai que morreu no campo de concentração de Sobibor, na Polónia, durante a Segunda Guerra Mundial.
Estudou Letras e Direito, tornou-se advogado e professor universitário, casou duas vezes, a segunda das quais com a filósofa Elisabeth Badinter.
No seu livro "Abolição", conta que foi em 1972, quando não conseguiu salvar Roger Bontems, cúmplice de uma tomada de reféns, que passou "da convicção intelectual à paixão militante" contra a pena de morte.
Conseguiu, no entanto, salvar seis homens da pena capital antes da abolição da pena de morte, pela qual lutou e foi acusado de ser "o advogado de assassinos".
Trabalhou também para a melhoria das condições de vida nas prisões e ficou na História por ter apoiado a despenalização da homossexualidade em França.
A entrada no Panteão é uma homenagem nacional que o coloca ao lado de nomes que marcaram a História francesa, como Voltaire, Victor Hugo, Pierre e Marie Curie, Simone Veil ou Joséphine Baker.