A Turquia denunciou esta sexta-feira como "grande irresponsabilidade política" o anúncio por Berlim de uma "revisão" das relações com Ancara e alerta para as viagens dos seus cidadãos ao país euroasiático após a prisão de um alemão em Istambul.
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"Enviar uma mensagem [aos alemães] dizendo que não é seguro deslocarem-se à Turquia indica uma grande irresponsabilidade política que não aceitamos", declarou em conferência de imprensa Ibrahim Kalin, porta-voz do Presidente Recep Tayyip Erdogan, quando as já exacerbadas tensões entre Berlim e Ancara conhecem um novo desenvolvimento. Um contexto que se pode ainda complicar, atentando à importante comunidade turca, cerca de três milhões, que vive na Alemanha.
"Com pequenos cálculos eleitorais [referência às legislativas alemãs em setembro] (...) tentar prejudicar as relações económicas, tentar suscitar dúvidas no espírito dos investidores alemães, é inaceitável", acrescentou.
A Alemanha acabou por reagir com firmeza à detenção de um grupo de defensores dos direitos humanos em Istambul, incluindo um alemão, e hoje anunciou uma reorientação da sua política, em particular no campo económico, face a um parceiro histórico.
A chanceler conservadora alemã Angela Merkel defendeu as medidas anunciadas como "indispensáveis", medidas que incluem ainda uma revisão das ajudas que a Turquia recebe da União Europeia (UE), na qualidade de candidato oficial à adesão desde 2005.
"As medidas anunciadas pelo ministério dos Negócios Estrangeiros face à Turquia são necessárias e imprescindíveis, devido à situação", afirmou a chanceler numa mensagem transmitida na conta 'Twitter' do seu porta-voz, Steffen Seibert.
A primeira medida concreta consiste num reforço dos alertas do ministério dos Negócios Estrangeiros sobre as viagens à Turquia, um destino habitual para muitos turistas germânicos.
O chefe da diplomacia, o social-democrata Sigmar Gabriel, acusou Ancara de violações sistemáticas dos direitos humanos e considerou que "afastam a Turquia da base dos valores europeus" e da NATO. "Não podem ficar sem consequências", disse.
Na resposta, o porta-voz do Presidente turco assegurou que Ancara pretende manter boas relações com Berlim, e recordou a importância dos laços económicos entre os dois países.
"Sempre mantivemos boas relações com a Alemanha e pretendemos que esse seja o caso. Mas isso deve ser feito no quadro do respeito e dos interesses mútuos", disse. "Para nós, a Alemanha é um importante parceiro comercial".
No entanto, um grupo que representa os exportadores alemães referiu hoje que muitas empresas já congelaram os seus investimentos na Turquia, e recomendou, na atual situação, a suspensão de qualquer investimento no país.
Sigmar Gabriel disse ainda hoje que dezenas de empresas alemães estão a ser acusadas sem provas de ajudarem "terroristas", e questionou a existência de garantias no futuro para os exportadores e investidores germânicos com interesses na Turquia.
Em comunicado, a BGA, associação de exportadores da Alemanha, acrescentou que é de "aguardar significativas quebras nas exportações caso sejam aplicadas as medidas em consideração", mas que não serão um problema significativo para o comércio externo alemão no seu conjunto. A BGA precisou que em 2016 a Turquia foi o 15º destino das exportações alemãs, e o 16º nas importações.
Ao comentar as acusações do chefe da diplomacia de Berlim, o vice-primeiro-ministro turco, Mehmet Simsek, negou que o seu país esteja a investigar judicialmente empresas alemãs por suposta colaboração terrorista, como asseguraram esta semana diversos 'media' germânicos.
"Os relatos na imprensa de que a Turquia está a investigar a Daimler, AG e BASF são completamente falsos. Damos as boas-vindas aos investidores alemães", assinalou Simsek na sua conta na rede social 'Twitter'.
O jornal alemão Die Zeit assegurou que o Governo turco entregou há semanas ao Gabinete federal de investigação criminal alemão (BKA) uma lista de entidades vinculadas com o movimento do predicador Fethullah Gülen, que Ancara acusa de ter instigado o falhado golpe de Estado de 15 de julho de 2016.
Na lista surgiam 68 empresas, desde grandes consórcios industriais como a Daimler e BASF, a negócios mais modestos de comida rápida ou de particulares.
