De "Turkey" para "Türkiye". Erdogan ordena mudança do nome do país, por orgulho nacional e por confronto ancestral com os dicionários ingleses.
Corpo do artigo
Ordem do presidente Recep Tayyip Erdogan a todos os departamentos de Estado e sobretudo a todas as empresas exportadoras: a Turquia muda de nome, para "Türkiye", para recuar ao étimo e às raízes culturais otomanas; e, doravante, todos os produtos que de lá saem para o mundo passam também a ter a etiqueta "made in Türkiye". A razão próxima é a evocação histórica, mas a causa remota é o inconfessado melindre semântico anglófono. Os turcos não gostam nada de saber que o país é conhecido por "Turkey", que os dicionários da língua inglesa grafam homonimamente como nome do peru ou "pessoa estúpida".
Seja em que sentido for, os turcos não apreciam o nome inglês do país, muito menos que "Turkey", o peru, represente um embaraço nacional nas mesas ocidentais que celebram o Natal ou a festa americana do Thanksgiving Day, o Dia de Ação de Graças, que se celebra na quarta quinta-feira dos meses de novembro e que tem nos Estados Unidos uma expressão comunitária sem igual, de reunião familiar. É o "Dia do Peru", ou seja, o "Turkey Day", que causa tanta irritação na Anatólia e na Trácia.
As instituições públicas já adotaram o novo batismo turco e o Governo de Ancara faz saber que vai acelerar o processo na ONU durante as próximas semanas. O Ministério dos Negócios Estrangeiros da Turquia já transmitiu a decisão por todos os canais diplomáticos e o único entrave andará no acento do ü. A solução poderá ser a queda do trema. Seja como for, para alterar o nome, à Turquia, à Türkiye, com ou sem acento, basta-lhe fazer uma simples notificação à ONU para obter o reconhecimento da comunidade internacional.
Islamização em marcha
A iniciativa de mudar o nome à Turquia surgiu em dezembro, quando Erdoğan assinou e mandou publicar um nota governamental para que a "Türkiye" fosse assim designada também em todo o mundo, seja em que língua for. "É a melhor expressão da cultura, da civilização e dos valores do povo turco", sublinhou Erdogan.
Mais do que esta exaltação histórica e cultural, observadores internacionais verificam na ordem de Erdogan mais um passo na agenda de islamização do país. Anda no ano passado, Erdogan instalou e venceu o debate para a converter a basílica de Santa Sofia em mesquita aberta a orações.
Construída no século VI, à entrada do estreito de Bósforo, a basílica Santa Sofia, classificada como Património Mundial pela UNESCO, perdeu o estatuto de museu por ordem do mais alto tribunal administrativo da Turquia e foi colocada sob administração da Diyanet (a autoridade para os assuntos religiosos).