Moscovo tem vindo a reforçar a presença na fronteira e na Crimeia mas pede que se cumpram os Acordos de Minsk. Kiev diz-se ameaçada e já conta com o apoio de vários países.
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Não há, para já, explicação para o reforço da presença russa ao longo da fronteira com a Ucrânia e com a Crimeia (anexada pela Rússia em 2014). Mas a verdade é que Moscovo, que diz que o país vizinho tem de parar de "provocar" o Kremlin, tem estado a acumular tropas e material bélico, assim como hospitais de campanha, no leste da Ucrânia. As movimentações parecem tudo menos os "exercícios militares" anunciados pela Rússia e Kiev insiste que o número de soldados russos naquele território é maior do que o admitido. A sensação de que uma tempestade está para chegar não pára de aumentar e, antevendo um desastre semelhante ao de 2014 - que já custou a vida a mais de 13 mil pessoas e fez quase 1,5 milhão de deslocados -, os avisos e apelos a ambas as nações multiplicam-se e a cartilha de aliados já se começou a anunciar.
Os países bálticos garantiram dar apoio à Ucrânia, já que "a Rússia está abertamente a ameaçar uma guerra". Nas palavras do secretário do Conselho de Segurança russo, Nikolai Patrushev, os Estados Unidos estão a "enviar recursos para armar o Exército ucraniano".
Sem a certeza de que as movimentações russas possam ser uma provocação ou o prenúncio do reacendimento do conflito na província de Donbass, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, já expressou a vontade em regressar ao cessar-fogo.
Uma cimeira com os homólogos russo, Vladimir Putin, e francês, Emmanuel Macron, e com a chanceler alemã, Angela Merkel, para discutir "a situação securitária no leste da Ucrânia e a desocupação dos territórios" seria essencial para aliviar as tensões e travar os confrontos armados entre forças ucranianas e separatistas pró-russas, sublinhou Zelensky, que, em 2019, prometeu pôr fim à guerra no leste do país.
Se a Ucrânia parece estar a tentar arrefecer os ânimos, admitindo que tem também um papel no reacendimento dos confrontos, a Rússia parece estar a usar estas manobras militares para desafiar o Ocidente.
Apesar de estar a lidar dentro de portas com os protestos pró-democracia, nem sempre pacíficos, Putin não mostrou vontade de recuar. Ao invés, pressionou os países com responsabilidade no controlo do conflito, a Alemanha e a França, a intervir. Decidiu, ainda, suspender, por seis meses, a passagem "pelas águas territoriais da Federação Russa de navios militares". A medida estende-se à ponta oeste da Crimeia, à extremidade sul entre Sebastopol e Hourzouf e a parte da península de Kerch.
Acordos de Minsk
"Seria muito importante para nós que o senhor Macron e a senhora Merkel utilizassem a sua influência na videoconferência com o senhor Zelensky para lhe explicar a possibilidade de uma cessação definitiva de todas as provocações", disse o líder russo, insistindo que "seria uma boa ocasião para recordar a necessidade de aplicar os Acordos de Minsk". No texto redigido em 2015, os líderes da Ucrânia, Rússia, França e Alemanha comprometeram-se com um conjunto medidas para aliviar a guerra civil no leste da Ucrânia.
Ainda que tenham reconhecido a "necessidade de uma aplicação, na íntegra, dos acordos de Minsk pelas duas partes", Berlim e Paris "sublinharam o seu apoio à independência, soberania e integridade territorial da Ucrânia".
O acalmar da situação entre as duas nações da antiga União Soviética parece ter servido apenas para preparar tropas para um conflito ainda maior. A Ucrânia passou de gastar 1,3 mil milhões de euros em defesa para cerca de 3,9 mil milhões de euros, escreve o jornal britânico "The Guardian". Grande parte do investimento foi para artilharia, já que, no conflito de 2014, os militares ucranianos foram derrotados pelas armas russas de longo alcance, tendo sido elas a causa de 80% das vítimas ucranianas.
Preocupada com as movimentações russas e ucranianas, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) demonstrou o seu apoio a Kiev, que, na teoria, é "inabalável". Continua sem reconhecer "a anexação ilegal e ilegítima da Crimeia pela Rússia". Todavia, mesmo perante o escalar de tensão, ainda não permitiu que a Ucrânia se junte à aliança.
Datas
2019 - Eleições de abril
Volodymyr Zelensky é eleito presidente da Ucrânia e promete acabar com a guerra no leste do país. Durante a campanha, defendeu a renovação política na Ucrânia e o fim da corrupção.
2020 - Cessar-fogo
Em julho do ano passado, o Grupo de Contacto Trilateral - Ucrânia, Rússia e Organização para a segurança e Cooperação na Europa (OSCE) - acordou um cessar-fogo ao longo da linha de contacto.
2021 - Visita ao terreno
No passado dia 9, o presidente ucraniano visitou as tropas na província de Donbass, no leste do país, que está sob o controlo de separatistas russos.