A União Europeia (UE) e Kiev discutiram esta terça-feira opções para aumentar a cooperação energética, perante um possível corte no fornecimento de gás da Rússia, em resposta às sanções impostas pelo organismo europeu devido à invasão russa da Ucrânia.
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"Sempre que falamos sobre segurança de abastecimento na Europa, a Ucrânia faz parte dessa conversa, estamos em contacto constante e a Ucrânia faz parte da plataforma energética da UE, assim como os seus dois grupos regionais", sublinhou a comissária europeia da Energia, Kadri Simson, durante uma conferência de imprensa conjunta com o ministro ucraniano do setor da energia, German Galushchenko.
O ministro ucraniano reuniu-se com os ministros dos 27 Estados-membros no final de um Conselho extraordinário de Energia, que decorreu em Bruxelas e onde acordaram reduzir 15% do consumo de gás até à primavera.
A comissária europeia explicou que a UE vai reduzir o seu consumo de gás "sempre que possível, para acabar com a dependência da Rússia".
"Estamos a trabalhar muito de perto antes do próximo Inverno, para melhorar a segurança do fornecimento e estar preparados para qualquer interrupção", atirou Kadri Simson.
Relativamente à Ucrânia, a comissária europeia lembrou que a UE tem contribuído para garantir o aumento dos fluxos de gás com a Ucrânia até ao final do ano, e garantiu que o organismo europeu está "preparado para facilitar a sua expansão".
"A Ucrânia tem a maior capacidade de armazenamento de gás da Europa. Temos interesse em usá-lo para a nossa segurança no abastecimento", atirou.
O vice-primeiro-ministro checo e responsável pela Indústria e Comércio, Jozef Sikela, cujo país preside ao Conselho da UE este semestre, assegurou que foi discutido esta terça-feira em conjunto com a Ucrânia "a cooperação no setor energético", que "pode continuar a desenvolver-se".
"Estou muito orgulhoso dos progressos que conseguimos fazer até agora, especialmente na sincronização da rede elétrica e do abastecimento de gás", sublinhou, acrescentando que o aumento gradual do comércio de eletricidade entre as duas partes é "especialmente importante no contexto atual, uma vez que permite à Ucrânia obter rendimento para sustentar o seu sistema energético, num momento em que o rendimento interno foi reduzido devido ao conflito.
Ao mesmo tempo, Jozef Sikela salientou que Kiev disponibiliza à UE "eletricidade adicional a preços acessíveis numa altura em que os preços são excecionalmente elevados".
Já German Galushchenko enfatizou que a guerra que a Rússia começou não é apenas contra a Ucrânia, mas "contra a unidade europeia, a solidariedade e o modo de vida europeu".
"A Ucrânia já sabe como é, quando a Rússia corta repentinamente o fornecimento de energia", lamentou.
O ministro ucraniano realçou que o seu país pode aumentar a eletricidade que exporta para a UE e substituir parcialmente o gás russo que pode deixar de circular, o que resultaria numa situação que interessaria tanto à Ucrânia como ao organismo europeu.
Além disso, German Galushchenko disponibilizou a capacidade de armazenamento de gás da Ucrânia para ajudar a UE a aumentar as suas reservas.
O objetivo é que, entre 01 de agosto deste ano e 31 de março de 2023, os Estados-membros reduzam em 15% os seus consumos de gás natural (face à média histórica nesse período, considerando os anos de 2017 a 2021), de forma a aumentar o nível de armazenamento europeu e criar uma almofada de segurança para situações de emergência.
A proposta teve a oposição inicial de países como Portugal, Espanha, Grécia e Polónia, nomeadamente pela falta de interconexão energética com o resto da Europa, mas foram depois introduzidas derrogações para ter em conta especificidades como elevada dependência da produção de eletricidade a partir do gás, falta de sincronização com a rede elétrica europeia ou ainda falta de interconexão direta no gás.
As tensões geopolíticas devido à guerra na Ucrânia têm afetado o mercado energético europeu, já que a UE importa 90% do gás que consome, sendo a Rússia responsável por cerca de 45% dessas importações, em níveis variáveis entre os Estados-membros. Em Portugal, em 2021, o gás russo representou menos de 10% do total importado.
A UE receia que a Rússia interrompa o fornecimento de gás à Europa no outono e inverno e, precisamente na véspera deste Conselho de Energia, o grupo russo Gazprom anunciou que vai reduzir drasticamente, a partir de quarta-feira, o fornecimento de gás russo à Europa através do gasoduto Nord Stream, justificando a redução com a manutenção de uma turbina, um argumento considerado pouco credível por muitos Estados-membros, incluindo a Alemanha.
No final da reunião o ministro ucraniano aludiu ainda à situação da central nuclear ucraniana de Zaporizhia, a maior da Europa, que é controlada pelas tropas russas.
"A esta situação chama-se terrorismo nuclear. No século XXI existe um país que pode comportar-se como um terrorista. E é uma questão de segurança nuclear", salientou, lembrando que a situação afeta não apenas a Ucrânia e a Rússia, mas o resto do mundo.
Segundo as autoridades ucranianas, as forças russas estão a cavar trincheiras na central nuclear e a colocar equipamentos militares em bairros residenciais próximos.
A Rússia lançou em 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que já matou mais de 5.100 civis, segundo a ONU, que alerta para a probabilidade de o número real ser muito maior.
A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas e políticas a Moscovo.
DMC // RBF