Raul e Monica foram autorizados a dar nó por serem médicos e quererem proteger legalmente os filhos.
Corpo do artigo
12057287
Foi uma cerimónia com sete pessoas e já eram muitas em tempos de Covid-19, que não permitem nem ajuntamentos, nem casamentos. Mas Federico Pizzarotti, presidente da Câmara de Parma, aceitou abrir a exceção: anteontem, oficializou o nó entre os médicos Raul Polo e Monica Balugani, ele com 48 anos, ela com 35, ambos a trabalhar em hospitais com enfermarias onde são tratados doentes com o vírus.
"Já vimos muitas pessoas mal e eu estive duas semanas com problemas respiratórios. Fiz o teste, deu negativo, mas nem sempre são fiáveis", contou ao JN o ortopedista, que tem dois filhos, dez e 12 anos, fruto de um anterior casamento e que não vê há um mês. Por segurança.
12059036
a morte aproximou-se
Da centena de médicos italianos que o vírus já matou, dois trabalhavam no hospital de Raul. A morte parece-lhe agora viver ao lado. O casal, que se conhece há nove anos, tem dois filhos de dois e três anos. Por uma razão e outra, foi adiando o casamento. Entendeu que agora era urgente.
"Se eu ou a Monica adoecermos, só conseguimos obter informações um do outro se estivermos casados. Se um de nós morrer, o outro só tem direito a uma pensão de sobrevivência se existir um casamento e só assim protegemos os nossos filhos", explica Raul.
12057630
Juntaram os argumentos e enviaram-nos por mail a Pizzarotti. E ele respondeu que sim, que não podiam esperar pelo fim incerto de uma pandemia. "Pareceu-me ser uma forma de agradecer a quem está todos os dias na primeira linha" no combate à Covid-19, justificou Pizzarotti, citado pela "Gazzetta di Parma".
Raul diz que, ainda que "baseado em amor", foi um "casamento de guerra", rápido, para proteger quem ficar caso o "soldado" morra.
Pausa às armas. Na Quinta-feira Santa, no Registo Civil onde só têm sido anotados os óbitos, o casamento foi uma lufada de ar fresco. Lá estavam os sete: os noivos, os dois filhos, duas testemunhas (amigos) e o autarca.
A noiva estava de vestido comprido, azul, estampado. "Foi comprado há um ano, é um vestido que usa em casa", conta-nos o agora marido, que admite que "foi complexo realizar um casamento tão simples".
O "sim" não foi selado por um beijo, as máscaras - obrigatórias - não permitiram, mas antes por um apertado e longo abraço. E a boda foi em casa, com o irmão de Monica e os pais dela, que vivem com o casal. "Foi normal, em família".
E os amigos? Raul cala-se por instantes. "Desculpe, estou emocionado". Ajeita a voz. "Os amigos ficaram muito contentes. Combinamos que, em junho ou em julho, quando estivermos em segurança, virão ter connosco e haverá vinho e a festa acabará à boa tradição italiana. A lua de mel, talvez em Portugal, quem sabe...".
Até lá, "paciência", escreveu Raul numa carta de agradecimento a Pizzarotti, na qual diz acreditar que a bandeira italiana "voltará a ser verde como os Apeninos, branca como o mármore das catedrais e vermelha como o Lambrusco".